Ernesto Geisel e a redemocratização

Arthur Lopes Filho*
Em 1964, com o Movimento Militar para depor João Goulart vieram os Atos Institucionais que trouxeram sérios danos ao amadurecimento político do Brasil. Juscelino foi cassado, ele o maior dos presidentes que a nação conhecera. Foi perseguido, preso e exilado.
Ele, que ocupara o cargo de Comandante Supremo das Forças Armadas com tanto equilíbrio, foi insultado por oficiais do Exército. Mas eram oficiais que desonraram suas espadas de cavalheiros. Mais tarde eles foram marginalizados.
Em 15 de março de 1974, Ernesto Geisel assumiu a Presidência da República com o firme propósito de promover a Abertura Política no Brasil. Sabia que precisava alcançar a vitória contra os radicais de forma segura. Para tanto, seguiu o teoria da Sístole e Diástole de Golbery, seu companheiro de ideias. Cometeu atos de autoritarismo antes de revogar o AI-5, como parte da Sístole e Diástole, como se verificou posteriormente.
Cassou o mandato do deputado Alencar Furtado, que num programa autorizado pela Justiça Eleitoral fez um pronunciamento contundente ao destacar a censura e a tortura, ainda existentes. E ao se referir aos filhos dos presos políticos dados como desaparecidos disse que eles eram “filhos do talvez e do quem sabe”. Quando houve a morte do jornalista Vladimir Herzog no DOI-Codi de São Paulo, Geisel advertiu o General Ednardo D’Ávila Mello, comandante do II Exército, que não admitiria outra morte por tortura e que a responsabilidade era dele. E aconteceu de novo, houve a morte do operário Manoel Fiel Filho. Imediatamente Geisel demitiu o General Ednardo e para o lugar dele designou o General Dilermando Monteiro para comandar o II Exército.
Mais ainda, Geisel teve que demitir o ministro do Exército, General Sylvio Frota, e o Ministro-Chefe da Casa Militar para assim reafirmar seu predomínio sobre os radicais das Forças Armadas que não desejavam a redemocratização. Com a firmeza que o caracterizava, Geisel revogou o Ato Institucional nº 5, que envergonhava o Brasil. Decretou “Luto Oficial” quando do falecimento do ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Cumpriu todo o seu mandato e passou a faixa presidencial para o presidente General João Batista de Figueiredo, que começou bem ao sancionar a Lei da Anistia. Mas Figueiredo não tinha muita disposição para trabalhar, tanto que em Brasília passaram a chamar de “semana Fig” a jornada de trabalho de quem chegava tarde no serviço e saía cedo.
Quando ele sofreu um infarto e teve que ser operado em Cleveland, nos Estados Unidos, o vice-presidente Aureliano Chaves assumiu a Presidência. Começava a trabalhar muito cedo e somente parava quando anoitecia, Figueiredo quando reassumiu, estimulado pelos amigos, rompeu com Aureliano, mas a redemocratização já era fato consolidado pela ação do ex-presidente Geisel.
PS -Maria Celina D´Araujo e Celso Castro entrevistaram Geisel ao longo de várias sessões entre 1993 e 1996. Disse ele: “Presentemente, o que há de militares no Congresso! Não contemos o Bolsonaro, porque o Bolsonaro é um caso completamente fora do normal, inclusive um mau militar. ….”
*Ex-presidente da ACMinas
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