ESG, greenwashing e o mercado de capitais

A adoção de práticas ESG (Environmental, Social and Governance) só tem a trazer benefícios para toda a sociedade. Suas iniciativas devem ser incentivadas por todos os envolvidos e, nos últimos três anos, as pautas ESG têm crescido exponencialmente em relevância, inclusive, no Brasil.
Todavia, em especial, com as corporações, que se submetem a um sistema de transparência maior, e uma cobrança mais forte e dura da sociedade, através, em especial, das mídias sociais, há indícios que nem tudo que é apresentado, prometido ou inserido em recorrentes “apresentações efusivas de powerpoint” são, efetivamente, representações verdadeiras do que ali está sendo divulgado, configurando, em alguns casos, um verdadeiro “greenwashing”, ou “maquiagem verde”, quando se tenta mostrar um produto, serviço ou característica “verde” e, que, de fato, passa longe de ser verdade.
Não bastasse as duas grandes tragédias recentes, em Mariana e Brumadinho, que deixaram um resultado catastrófico para as vítimas e seus familiares, quando se esperava que padrões de sustentabilidade mais efetivos pudessem ter evitado ou minimizado os resultados, dois outros acontecimentos recentes muito negativos, envolvendo duas corporações do varejo, um com um resultado fatal e outro com investigação preliminar ainda em andamento, demonstram que o triste ditado popular de que “papel aceita tudo” ainda é uma realidade no meio corporativo quando falamos de respeito efetivo ao ESG.
Há poucos anos, ministrei uma palestra sobre bullying em uma grande escola privada em Belo Horizonte, e recebi, naquele momento, diversos “feedbacks” da direção da escola que a escola se preocupava efetivamente com o assunto, que tinha iniciativas exitosas para prevenir o problema etc. Coincidências do destino, na noite seguinte, estava num ônibus descendo uma das avenidas principais da Capital, e já no final da noite, diversos funcionários da área administrativa dessa escola entraram no ônibus, e pude conversar rapidamente com os mesmos sobre o mesmo assunto, que a escola, de forma ufanista, se vangloriava de tratar na mais alta conta: ninguém sabia da palestra e não tinha conhecimento de nada, efetivo, para se prevenir o bullying. Se havia alguma “prevenção” ou ela estava restrita à cúpula da empresa ou aos educadores. A área administrativa, mais uma vez, estava totalmente alijada desse processo.
Com o ESG, em especial, nos dois episódios recentes envolvendo grandes varejistas, é visível que se existe ESG, ele não chega a todos os níveis das corporações, menos ainda, junto aos terceirizados que atuam diretamente junto às empresas.
Ou seja, parte do que se promete e se propaga que seja ESG é “greenwashing” puro, não correspondendo à verdade, ou pior, é mentira unicamente utilizada para promover a empresa junto ao mercado e com o único objetivo de sensibilizar os consumidores no processo de decisão das compras com informações falsas, sem comprovação efetiva nenhuma ou que rendem situações negativas e muito surpreendentes, quando vêm ao público, por serem o contrário de muitas propagandas que vêm sendo veiculadas em eventos públicos, informes de resultados e até de matérias pagas em grandes jornais da mídia tradicional.
Esse tipo de conduta me chama a atenção, em especial, quando vejo empresas contratando celebridades para fomentar a “pauta ESG”, medidas mais pirotécnicas do que realmente efetivas, profundas e capazes, em realidade, de melhorar as práticas ESG dentro das corporações e junto a seus stakeholders. ESG é processo e é algo muito sério.
Não podemos permitir que o assunto seja banalizado, ferindo, inclusive, o direito que o consumidor tem de receber informações claras sobre os possíveis “produtos ou serviços verdes”, que estão direta ou indiretamente sendo promovidos e os direitos humanos das pessoas envolvidas em todo o “ecossistema” da empresa. Além disso, pode configurar, ainda, em grave infração econômica, no meu ponto de vista, uma corporação fazer campanhas maciças sobre a adoção efetiva de práticas ESG, quando descobre-se, posteriormente, que isso não correspondia à verdade, e, ainda, prejudicando as empresas concorrentes. A “luz amarela” já acendeu em muitos lugares e a sociedade deve acompanhar com serenidade e atenção para que o assunto não seja banalizado por iniciativas, que de ESG, só possuem o nome; de fato, são o puro e nefasto “greenwashing”.
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