Eta mundo velho de guerra…

Cesar Vanucci *
“Não se espantar com nada talvez seja o único meio…” (Horácio – “Epistolas”)
Eta mundo velho de guerra sem porteira! A avalancha de informações estranhas, chocantes, que anda pintando no pedaço, faz assomar no palco das lembranças, com seu semblante sereno e paternal solicitude, a figura austera de tio Nhô. Era alguém privilegiadamente inteirado das coisas deste (e do outro) mundo. Acostumei-me, nos idos da adolescência, a ouvi-lo dizer, com ênfase na voz, a expressão que abre este comentário, por ele comumente utilizada ao se defrontar, na caminhada cotidiana, com situações cabulosas.
Nhô, professor, engenheiro agrônomo, era homem provido de invulgar cultura. Não saberia dizer se, a qualquer tempo de seu intenso labor intelectual, tomou conhecimento de uma máxima milenar atribuída a Horácio (65.8 aC), alusiva ao estado de espírito que acomete o homem comum ao esbarrar em histórias geradoras de perplexidade e temores. A fala de Horácio: “Não se espantar com nada talvez seja o único meio, e o melhor, para tornar e conservar alguém feliz.”
Seguir o conselho. Conservar a calma, refletir, agir se e quando possível, não se espantar em demasia, de jeito a evitar aflição e sofrimento. Agarrar-se, também, à esperança – esse impulso heroico da alma –, torcendo para que, um pouco mais adiante, as soluções dos problemas possam ser encontradas.
Enquanto isso, contudo, impõe-se o cuidado de fixar atenção nalguns episódios desconcertantes, suscetíveis de molestar-nos, trazidos pelo noticiário nosso de todo dia. Um deles, bastante momentoso e impactante, é comentado na sequência.
A Organização Mundial de Saúde está fazendo soar a sirene de alerta com referência aos rumos inesperados, detectados pelos seus aguçados sensores, no que toca à indesejável proliferação dos casos do temível “coronavírus”. Asseverava-se de princípio que a letal enfermidade havia brotado e ficado confinada numa região do imenso território chinês. A região apontada tornou-se, na medida do possível, de acesso interditado. Foi a maneira recomendada de molde a evitar massivas contaminações. Conjuntamente com as providências emergenciais adotadas pelas autoridades chinesas, foram estabelecidas, adicionalmente, em numerosos países, medidas preventivas rigorosas no combate ao “Covid-19”, denominação oficial dada ao vírus pela OMS. Chegou-se, como sabido, ao ponto de se fazer “repatriamentos”, às pressas, de nacionais de outros países que residiam ou se encontravam em visita à nação asiática. Ao que se divulgou, poucos casos de contágio do vírus foram constatados nas levas de cidadãos que retornaram aos países de origem. Uma quarentena sanitária, como sucedeu aqui no Brasil, foi imposta por recomendação dos serviços de saúde.
Aconteceu, entretanto, de repente, uma situação totalmente à margem das previsões dos especialistas. Surtos do “coronavírus” irromperam em áreas consideravelmente distanciadas da China, sem que as pessoas afetadas tivessem tido, a qualquer momento, contato com alguém que houvesse visitado recentemente aquele país. O registro desse tipo de ocorrência gerou compreensível apreensão. A OMS viu-se forçada a uma reavaliação do magno problema. Ficou comprovado que, ao inverso do que se supunha, a alarmante manifestação da doença, com sua tendência expansionista, não está limitada exclusivamente a um só lugar. Na China, com milhares de casos de infecções e centenas de óbitos, o corona assumiu feição de epidemia. Com as constatações da Organização Mundial de Saúde, os riscos de um problema de saúde pública consideravelmente bem mais avultado, de proporções mundiais, passaram a ser, perturbadoramente, aventados. E já há até quem esteja conjecturando, nas redes sociais, alinhado com as chamadas “teorias conspiratórias”, que o “Covid-19” nada mais é senão produto inventado em “laboratório bacteriológico”. Teria escapado ao controle de “doutores nirvanas” engajados em projetos científicos demenciais.
A expectativa das pessoas se volta, agora, para a ação providencial da ciência comprometida com a causa do bem-estar humano. Em diferentes partes do mundo especialistas se lançam com afinco no esforço redentor de descobrir eficaz antídoto para o fatídico vírus.
Fica pra depois as considerações sobre outros fatos momentosos.
* Jornalista, presidente da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais ([email protected])
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