Opinião

Evocações do meu passaporte (VII)

Evocações do meu passaporte (VII)
Crédito: Kritchanut

Cesar Vanucci *

“Quem vem uma vez, volta outra vez.” (De um folheto distribuído aos turistas em Katmandu)

Nas “evocações” recentemente trazidas à apreciação do distinto leitorado, aludimos a uns tantos eventos desagradáveis, de certa maneira turbulentos, registrados pela câmera cerebral em nossas andanças pela Índia de mil e um fascínios. As historietas narradas remetem a lembranças de outros flagrantes de situações indesejáveis, observadas noutras paragens, durante viagens ao exterior, predominante marcadas por enriquecedoras vivências culturais.

Falemos do Nepal. Uma Índia de tamanho bem menor. Menos gente, menos agitação nas ruas e estradas. Costumes extremamente parecidos. Vida igualmente barata. Afluxo turístico significativo. Ao rever Katmandu e Patan, vários anos transcorridos da primeira visita ao país, não observamos, ao contrário do que ficou constatado no retorno à Índia, mudanças expressivas na fisionomia dos lugares já conhecidos. O aeroporto – é verdade – ganhou aspecto mais moderno e funcional. O centro histórico de Katmandu passou por algumas reformas que, de um certo modo, garantiram emolduramento mais requintado das riquezas arquitetônicas dos templos.

Para quem esteja com a ideia focada no lazer, o país é um lugar agradabilíssimo para se visitar. Pelo equivalente a cem dólares, o turista pode fazer, com duração aproximada de duas horas, o sobrevoo inesquecível do Everest e de outros colossais maciços montanhosos da Cordilheira do Himalaia.

Povo extremamente gentil e simpático. Os vendedores são açodados. Mas não tanto quanto os da Índia. O que existe para ser visto e admirado é muito sedutor, tanto na parte dos templos budistas como hinduístas, sem exclusão dos chamados templos eróticos de Patan, cidade próxima a Katmandu. Mas os lugares mencionados não chegam a ser comparáveis com as edificações do mesmo gênero de Keralla, na Índia.

Preços altamente convidativos. Hotéis, refeições, joias, tapetes, tecidos, tudo acessível. Nas ruas, percebe-se um clima de descontraimento popular. O que ajuda a explicar o volume apreciável de turistas estrangeiros.

Os “ledores de sorte”, personagens rodeados de visível simpatia por parte da população, promovem nas praças um espetáculo inusitado interessantíssimo. “Vendo” o que está “escrito” nas linhas das mãos dos clientes enfileirados, anunciam em voz alta, de modo a que possam ser ouvidos por um amontoado de curiosos à sua volta, o que “já aconteceu”, ou “está prestes a acontecer” na história pessoal dos que recorrem aos seus valiosos “préstimos advinhatórios”…

A atenta plateia manifesta júbilo, até mesmo aplaudindo, quando as revelações são “positivas” e emite sons de desagrado, gesticulante, quando as “informações transmitidas” são de teor inverso.

Chegamos agora a uma anotação sobre situação desagradável. Numa determinada ocasião de exacerbação política, parece que frequente na vida do país, deparamo-nos com medidas de segurança extrema, que resvalaram até por vezes a paranoia.

Num trajeto de cinquenta metros, se tanto, presenciamos as pessoas serem submetidas a revistas rigorosas mais de uma vez. No aeroporto de Katmandu, as múltiplas buscas empreendidas por agentes militares, apalpando os passageiros, pareciam ter sido “engendradas” numa sátira política cinematográfica, de crítica ao autoritarismo, “bolada” por Chaplin ou Woody Allen. Na subida da escada do avião, as “vistorias” eram rigorosa e zelosamente procedidas por três carrancudos agentes estrategicamente “plantados nas escadas”. Algo de um surrealismo inimaginável.

* Jornalista ([email protected])

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