Existe eternidade

Fábio Ribeiro Baião*
A maioria de nós se curva aos encantos da eternidade. Ela pode existir no plano físico ou espiritual. No plano físico ela pode existir através da perpetuação de uma espécie. Já no etéreo há tantas formas que ficamos surpreendidos.
Na Natureza três animais chamam a atenção dos cientistas por manifestarem a capacidade de autorregenerar ou produzir um clone. As águas vivas Turritopsisdorhnii podem retornar ao estágio de cisto e depois renascerem com o mesmo conjunto de genes. As hidras, invertebrados de água doce, nunca envelhecem. Tanto que chamou a atenção para estar dentre os primeiros animais a serem examinados por ocasião do salto da tecnologia do microscópio pelo neerlandês Antonie van Leeuvenhoek, em 1674. As planárias, tipos de vermes presentes em todo o mundo são capazes também de viver de forma ilimitada, com o poder até de se dividir em duas, e originar um clone. Nós envelhecemos porque nosso DNA atinge seu limite de divisão celular. Segundo os estudiosos do assunto, na planária isso não ocorre, porque elas possuem uma quantidade de uma certa enzima que permite a produção de células-tronco autorrenováveis. A intenção da Ciência é se valer da descoberta destes segredos e usar estes conhecimentos para o ser humano.
Atingir a imortalidade por meio de autorias é também um traço de caráter de muitos de nós. Nada contra o desenvolvimento da Ciência, isso é louvável. Mas, os que sofrem ou se abalam psicologicamente porque estão a perseguir o objetivo de verem seu nome atribuído a uma doença, uma síndrome ou a um sinal podem estar a apresentar o que denominamos de Síndrome de Tashima.
Outra forma de atingir a perenidade seria a possibilidade de transferir toda a consciência de uma pessoa para um computador. Então poderíamos conversar com ela e observar todas as suas convicções e modo de ser. Esta consciência eventualmente poderia até mesmo ser transportada para um novo ser. Isso aconteceu no filme Avatar, do diretor James Cameron. Ficção científica a princípio, já é uma realidade hoje em dia quando entramos num “chat” (bate-papo) com um boot (uma máquina dedicada a este fim) e fazemos perguntas sobre diversos pontos de vista. As respostas são alimentadas pela “IA” (inteligência artificial) que pretende garantir a melhor resposta para as questões propostas, sustentada por todo o manancial de conhecimento já acumulado pela humanidade.
É possível sentir o gostinho da eternidade em muitos momentos mágicos. A sensação é confortante e de fagulhas eletrizantes. Naqueles segundos sentimos a dimensão do mistério da vida. A esperança, a fé, o arrimo que subitamente apareceu, a clarividência, a capacidade de sorrir, a certeza do livre arbítrio guiado pela luz, salvar-se, a consciência tranquila, o amor desinteressado, o ombro como manto para acolher o choro alheio, o perfume do lar, e a cura interior entre tantas benções da vida. O testemunho deve ser colhido de cada um, pois somos entes de memórias. Sabemos que a paz infinita só chega quando de nós se afasta todo mal. Ser perdoado é adentrar em uma das mais sublimes sensações de plenitude, pois nos afasta da solidão. Pois, só nos sentimos pertencentes a este mundo se sentimos o afeto a nossa volta.
Poder recorrer aos conselhos do avô, da avó, do pai, da mãe, de uma pessoa que se admira será incrível. Olha quantas vezes nos apercebemos disso e dizemos que naquela circunstância fulano faria isso ou aquilo. Por quantas vezes nas dificuldades sentimo-nos sozinhos ou perdidos e pedimos ardentemente que tomemos a melhor decisão.
São tantos os líderes espirituais, filósofos, educadores, homens e mulheres de bem que nos deixaram um legado perene. Eles nos sustentam e transformam através de seus escritos, para não dizer das mensagens das canções que iluminam e guiam nossas vidas. Há que se lembrar que também somos herdeiros de nós mesmos e construímos nosso lastro a cada dia. Quem não se emociona com os versos inspiradores de “Certas Canções” de Milton Nascimento que nos fazem ter certeza da singularidade coletiva da experiência humana e as razões por que deve ser eternizada: “Certas canções que ouço/Cabem tão dentro de mim/Que perguntar carece/Como não fui eu que fiz. Gratidão!
* Médico ortopedista em Belo Horizonte
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