Fatos da atualidade

CESAR VANUCCI *
“Tenho vergonha desse capitão do mato”.
(Oswaldo de Camargo Filho, produtor musical, irmão de Sérgio Nascimento de Camargo, presidente da Palmares)
1.A difundida expressão “muy amigo”, de uso corrente para rotular “amizades” sob suspeição, parece vir a calhar no que concerne a procedimentos adotados pelo arrogante governo Trump em relação ao Brasil. Escusado salientar que os “afagos” brasileiros ao mandatário da Casa Branca, no atual governo, têm sido de exuberância nunca dantes vista. Têm dado causa, a propósito, a acesas críticas por parte de personalidades afeiçoadas às ações diplomáticas. Caso, por exemplo, do ex-embaixador Rubens Ricupero. Ele acusa a política externa brasileira de estar sendo dominada por “uma franja lunática”. Declara que, na aliança amistosa de nosso país com a poderosa nação do norte, vem sendo colocada em prática uma “ideologia inteiramente alienada e distorcida”. “Insiste-se – frisa – em enxergar em Trump um defensor do ocidente cristão, coisa que o próprio Trump jamais se propôs a ser”. Para Ricupero, o Brasil está abrindo mão de defender o interesse nacional, ao colocar como seu principio fundamental o alinhamento com os Estados Unidos de Trump.
Pois não é que, surpreendendo o Planalto e sinalizando retaliação por causa, provavelmente, da aproximação brasileira com a China em função de entendimentos no âmbito dos BRICs, o topetudo Donald Trump acaba de acusar o Brasil de manipular a alta do dólar. E, via de consequência, resolve sobretaxar o aço por nós exportado?
As indicações de que o termo “muy amigo” se ajusta com precisão de luva ao inter-relacionamento ora vigente entre os dois países ganham robustez nas informações alinhadas na sequência. O Brasil tem votado, sistematicamente, com os Estados Unidos em decisões momentosas nos diferentes fóruns internacionais. O Brasil concordou em abrir, no tocante ao trigo, uma cota livre de tarifa de importação. O Brasil elevou a cota de importação anual de etanol de origem estadunidense sem tarifa. O Brasil dispensou o principio da reciprocidade de vistos e liberou cidadãos dos Estados Unidos da obrigação de permissão para entrar em nosso território.
“Em compensação”, mesmo assegurando formal apoio à candidatura do Brasil para ingressar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o governo Trump defendeu, na hora do vamos ver, apenas o ingresso da Argentina e da Romênia na importante instituição. Os Estados Unidos se negaram a franquear seu opulento mercado à carne bovina “in natura” de procedência brasileira. E, agora, como já anotado, “denunciando” o Brasil por manipulações com o dólar, Trump anuncia, majestático, a adoção de sobretaxas pesadas para o aço e o alumínio produzidos por empresas brasileiras.
2. A rajada de despautérios sobre a questão racial, de teor rançosamente talibanista, disparada por Sérgio Nascimento de Camargo, guindado à presidência da Fundação Palmares, levou o próprio irmão do dito cujo a condenar publicamente seu inacreditável posicionamento. O músico e produtor musical Oswaldo de Camargo Filho, mais conhecido por Wadico Camargo, confessou-se envergonhado da postura racista de Sérgio, tornada ainda mais espantosa diante da circunstância da afro descendência do mesmo.
Encabeçando manifesto com milhares de assinaturas contrárias à indicação do titular do órgão institucionalmente encarregado de conduzir a política de integração racial, assim se manifestou Wadico: “Se fosse para o bem da nossa raça, eu seria o primeiro a apoiar. Mas para o mal do povo negro, sem chance. Para mim, raça é Pátria, é Alma. Sou negão! Tenho vergonha de ser irmão desse capitão do mato.” Como já sabido, o elemento apontado como “capitão do mato” sustenta que no Brasil existe um “racismo nutella”, “ao contrário dos Estados Unidos, onde o racismo é real”. Ele “garante” ainda que “a negrada daqui reclama muito porque é imbecil e desinformada pela esquerda”. Referindo-se a um sem número de personagens da comunidade negra de presença realçante na vida cultural do País ele também emprega outras expressões injuriosas. Tipo “ladrões racistas”, pessoas que se dizem negras “para faturar politicamente e fazer discurso vitimista”, e por ai vai… Classifica vários deles como “parasitas”. Chega até a “sugerir” que desafetos políticos “sejam usados como cobaias em testes, no lugar de animais”…
A repercussão das falas do cara já ultrapassou fronteiras. Consta mesmo que altos dirigentes da tristemente célebre “Ku Klux Klan” mostraram-se exultantes com a inimaginável adesão do dirigente da Palmares às suas “edificantes teorias supremacistas”. Já teriam até expressado desejos de convidá-lo para uma série de conferências de doutrinação racial em seus diligentes núcleos operacionais, começando pelo Mississipi e Alabama…
3. Manjem só o lado surreal de recente decisão da Anvisa! Estão regulamentados o registro e a liberação de venda de medicamentos à base da “cannabis”. A comercialização do produto será feita nas redes farmacêuticas com prescrição médica e retenção das receitas. Liberou-se a produção, mas barrou-se o cultivo controlado da planta, que – sabido de todos – dá origem aos assim chamados “baseados”. Fica fácil pra qualquer um vaticinar o “quiproquó”, com implicações jurídicas e policiais infindáveis, que um procedimento tão ambíguo como esse vai acabar provocando na praça. A importação da matéria prima se tornará inevitável. Ressalte-se, por derradeiro, já serem numerosos os países, inclusive na América Latina, onde vigora autorização para plantio da “cannabis” e fabricação de remédios, evidentemente, sob acautelável controle oficial.
* Jornalista ([email protected])
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