Felicidade em movimento: Amor ao conhecimento

“Criar, gestar, humanizar – o conhecimento deve ser um borbulhar constante que nos inquieta e nos impulsiona.”
A reflexão sobre o poder do amor conta com uma importante obra de Platão que nos deixou um legado essencial no seu diálogo “O Banquete”, redigido provavelmente já em sua maturidade. É interessante observarmos que essa obra é também conhecida como “Simpósio”, que na Grécia antiga consistia nos grandes debates realizados após jantares. Para além da amplitude das abordagens contidas no diálogo desse pensador, podemos destacar o entendimento do amor como sacrifício, que atravessa todas as forças. Amor é, portanto, dedicação, é abrir espaço para o outro… E é também desejo pelo conhecimento. Com isso, para Platão a filosofia é o próprio desejo de conhecimento. É o “engravidar” para dar luz a ideias. Eros, portanto, é também amor à sabedoria, à filosofia. O desejo de conhecimento está em nós.
Passados cerca de dois mil e quatrocentos anos, é impressionante como esse pensamento continua atual. A Psicologia Positiva nos traz, em suas 24 forças de caráter, o amor à aprendizagem. É a busca pelo conhecimento a partir do domínio de competências técnicas e emocionais. É o querer beber em diversas fontes, o querer saber, o querer saber fazer. Essa vontade, que muitas vezes se confunde com curiosidade está explícita em grandes personalidades como Leonardo da Vinci, que além de pintor e escultor também desenvolveu trabalhos e se interessou pela física, engenharia e até mesmo anatomia humana. Mas nós, mesmo com limitações, não podemos nos furtar também a desenvolver o nosso melhor por meio da aprendizagem.
Nessa busca incessante pela luz, presente também no Mito da Caverna de Platão, um primeiro aspecto relevante talvez seja o autoconhecimento. Estarmos alinhados com nossos valores e nosso propósito nos torna pessoas mais felizes. É a busca da serenidade e do bem-estar pelo conhecimento.
Muito tem se falado, no contexto da sociedade pós-moderna, na robotização, na substituição do homem pela máquina, no esgotamento de inúmeras profissões. Mas devemos sempre nos lembrar das antíteses, da necessidade dos opostos para a construção de uma identidade. Em contraponto à supervalorização do hardware – de tantos objetos tangíveis como telefones, computadores, veículos -, temos a ressignificação da importância do ser humano, da humanização dos processos, do Homem como o capital ativo de todas as fases da produção do conhecimento: como gerador de conteúdo, como participante do processo, como consumidor.
E esse processo de autoaprendizado que passa pelo desenvolvimento dessa virtude, o conhecimento, não pode ser voluntário, pensado, provocado, estruturado? Pesquisar no ambiente on-line, assistir a filmes, renovar o gosto pela leitura, participar de grupos de debates, cursos e eventos são formas de expandir os nossos horizontes. A aplicabilidade desse conhecimento na vida de cada indivíduo, único, pode se dar no campo que lhe for de maior interesse, não sendo excludentes. Assim, novos estudos podem vir a aprimorar a nossa vida espiritual, a nossa vida pessoal, a nossa vida profissional. Mesmo porque existe uma retroalimentação entre essas esferas, por mais que muitas vezes os conteúdos possam ser compartimentados.
Essas palavras buscam, portanto, instigar, mexer com, reelaborar, aquela centelha que está em cada um de nós, algumas vezes adormecida, outras vezes latente, do amor ao conhecimento, do significado que esse sentimento pode ter, e mais do que isso, de como ele pode ser construído tornando a nossa trajetória pela vida mais feliz.
* Flavia Botelho (in memorian)
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