FELICIDADE EM MOVIMENTO | Curiosidade. Curió?

Curió era pássaro curioso. Já tinha nascido assim: antes mesmo de sair do ninho, fitava o céu com o bico empinado e a avidez de quem deseja o encontro com as infinitas possibilidades do desconhecido.
Curiosidade é a capacidade natural e inata dos seres vivos de procurar algo geralmente novo, original, desconhecido. Interesse genuíno pelo mundo, também pode ser definida como o interesse intrínseco do ser vivo pela experiência e conhecimento em si mesmos. É mais do que instinto: é a força que nos impulsiona a buscar informações e descobertas com o potencial de gerar mudanças. Sob esta ótica, curiosidade impacta na evolução da espécie desde o início da humanidade.
Curió precisava conhecer o mundo. Era uma necessidade… quando abriu as asas pela primeira vez, sentiu que o seu tamanho real não era o daquele corpo frágil, sim o de sua mente livre: uma dimensão incalculável. Talvez tenha mesmo sido a curiosidade o que sustentou suas asas no primeiro voo… havia ossos, músculos, nervos e penas, tudo isso pacientemente a serviço de uma força maior capaz de levá-lo rumo à exploração do que existia lá fora.
À luz da Psicologia Positiva, a curiosidade é uma força de caráter relacionada com a virtude da sabedoria. De acordo com o budismo, sabedoria é consciência pura: o estar plenamente presente, desperto, no contexto da realidade, assim como ela é. Instrumento para acessar as diversas camadas da realidade em toda a sua espessura e profundidade, a curiosidade é o que instiga à busca: trata-se do passo inicial para o encontro e a apreciação.
A curiosidade tem sido tema de amplas pesquisas no campo da psicologia e da neurociência. Na década de ‘50, o psicólogo Daniel Berlyne foi um dos pioneiros, considerando a curiosidade como ferramenta de busca para reduzir o desconforto resultante da percepção da falta de informação em relação a algum assunto específico. Já na década de ‘70, o professor Edward L. Deci, da Universidade de Rochester, ampliou o conceito focando no caráter intrínseco desta força, utilizada não apenas para reduzir desconforto, mas também para gerar emoções e experiências positivas.
O modelo mais recentemente proposto para a compreensão da curiosidade, de acordo com Todd Kashdan, professor de Psicologia e cientista sênior do Centro de Avanço do Bem-estar da Universidade de George Manson, é o pentadimensional, contemplando privação da sensibilidade, exploração prazerosa, curiosidade social, tolerância ao estresse e busca de emoção, aventura.
Curió, pássaro curioso, sentia um desejo intenso de ver, ouvir, conhecer, experimentar tudo aquilo ao que intuía ainda não ter sido apresentado. A infinidade de descobertas fazia seu coração bater mais forte. Qual o caminho? Por onde começar? Quais os perigos? Como traçar estratégias? Enquanto entrava em contato com sua curiosidade, sentia-se invadido por uma onda de emoções positivas: prazer, entusiasmo, êxtase, calor, aconchego… aquilo sim seria uma vida agradável! E cantava o seu melhor canto, só de imaginar!
Uma das frases mais importantes que eu ouvi em toda a minha vida foi a de que tudo (ou quase!) poderia ser diferente. Diferente? Como assim, diferente? Diferente, apenas. O que gera o meu movimento em relação às diferenças que gostaria de conhecer e implementar na vida começa com a curiosidade.
Curió tinha sede: sede de experiências, de conhecimento. O amor pelo aprendizado acordava todos os seus sentidos e estes respondiam sendo mensageiros responsáveis pela conexão entre os dois mundos: o de dentro e o de fora. Assim, a satisfação de sua curiosidade vinha através do olhar, do ouvir, do sentir odores, do tocar, do ser tocado, do experimentar sabores. Curiosidade é uma experiência multissensorial cuja satisfação leva à edificação de uma vida engajada, cheia de propósito e, certamente, mais feliz.
Bons voos, curió!
Sugestões de práticas referentes à força da Curiosidade.
Treino em olhar apreciativo.
Quantas vezes, vivendo no modo “piloto automático”, pensamos conhecer tudo o que está à nossa volta e até caímos no tédio por falta de motivação ou perspectiva em relação à descoberta de algo novo?
Desafio você a parar por alguns instantes em qualquer lugar que você escolha (cuidado com a sua segurança!) e apenas observar o que estiver à sua volta. Pode começar com uma lista de objetos. Escolha um, e procure olhar mais atentamente: onde está? Quais são as suas cores? Sua textura, temperatura? Sua função? Sua relação com os vizinhos? Muda alguma coisa, se modificarmos o ponto de observação? Mais de perto, mais de longe, um pouco mais à esquerda? À direita? Por baixo? Por cima?
Registre, se puder, o resultado da sua prática. Pode ser apenas a descrição do que viu, mas, se quiser, pode também deixar anotado o que sentiu ou percebeu fazendo isso. Pensamentos, lembranças, sensações, “insights”…
Árvore das possibilidades.
Escolha uma situação qualquer que tenha acontecido no seu dia e, por algum motivo, não tenha sido agradável. Lápis e papel ajudam: desenhe uma árvore. Pode ser uma representação bem simples: raízes, troncos e galhos. Considerando o tronco como a situação que estamos recordando, bifurque a parte superior: o lado esquerdo, representa a atitude que tomamos no momento. Já o direito… será o galho que representa uma possibilidade alternativa de resposta à pergunta: o que poderia ter sido diferente?
Sugiro que desenhe quantas bifurcações preferir daqui para frente. A curiosidade pela busca de novas possibilidades é responsável pela origem das bifurcações e também pelo despertar de transformações internas.
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