Filantropia e a Agenda ESG

Filantropia é importante e é uma forma de as empresas contribuírem para a resolução de problemas sociais e ambientais, por meio da doação de recursos. Em alguns casos, são garantidos benefícios fiscais para as companhias contribuintes. Os institutos que concentram ações sociais de empresas também fazem parte dessa lógica. Várias companhias adotam esse tipo de estratégia para atuar, por exemplo, em projetos de natureza cultural, artística ou de apoio à pesquisa científica e educacional. Entretanto, isso não significa que essa empresa é sustentável.
A presença do meio corporativo na filantropia é essencial para que recursos cheguem às áreas e projetos desatendidos pelo poder público ou pela iniciativa privada em seu papel tradicional. Todavia, é preciso reforçar que esse papel não se confunde com as iniciativas ESG que podem mitigar e/ou solucionar questões sociais e ambientais e, ainda, potencializar os retornos financeiros para a operação e investidores.
Ainda que as empresas que promovam a filantropia reforcem seu valor na comunidade, em termos de investimentos e atendimento dos princípios ESG, tais ações não são suficientes para caracterizar uma empresa como adotante de uma gestão que leve em consideração os critérios ambientais, sociais e de governança.
A popularização do ESG, aliada à falta de consenso na definição de padrões para a classificação das ações, contribui para a dificuldade das empresas em criar uma estratégia verdadeiramente pautada nesses princípios. Não resta dúvidas, entretanto, que uma companhia não deve ser enquadrada como ESG apenas em função de doações ou manutenção de um instituto ou fundação.
Nesse caso, dependendo da atuação da empresa – por exemplo, uma empresa altamente poluidora ou com fortes indícios de más condições de trabalho – a atuação via filantropia pode até ser vista como Green ou Social Washing, uma vez que a empresa não preenche os requisitos das práticas ESG. Além disso, é preciso observar o impacto da operação da empresa no que diz respeito aos colaboradores, fornecedores, clientes e sociedade. E, ainda, boas práticas de governança, como o foco na diversidade.
Pesquisas acadêmicas e índices que reportam os resultados das empresas com agenda ESG demonstram que os resultados financeiros atingidos por elas são superiores aos das empresas com agendas tradicionais.
Os clientes, por sua vez, estão cada vez mais engajados e ativistas, logo, uma companhia que demonstra de forma transparente e confiável que se preocupa em evitar ou solucionar problemas ambientais e sociais, ganha reputação, fidelidade e seus clientes passam a fazer propaganda do produto e serviço, o que resulta em maiores receitas e menores custos, elevando a lucratividade da empresa.
Reforço que as iniciativas filantrópicas são mais do que importantes. Contudo, há uma preocupação crescente sobre como a operação das companhias pode contribuir positivamente para o mundo e a sociedade cumprindo, concomitantemente, seu papel de gerar lucros aos acionistas. A sociedade não aceita mais empresas que causem danos e realizem expressivas doações “a título de reparação”. Estamos em uma nova era do capitalismo, e não há como voltar.
Ouça a rádio de Minas