Opinião

Fluxo de caixa nas startups

Fluxo de caixa nas startups
Crédito: Adobe Stock

Cláudio Machado *

O líder popular e poeta cubano José Martí proclamou em vida que plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro são três coisas que cada pessoa deve fazer durante a vida. A cronologia dessas ações não importava, mas elas seriam essenciais para a realização do ser humano, influenciando a sociedade e transformando a vida do próximo. De forma livre e despretensiosa, deixando as metáforas e ideologias do seu autor para trás e considerando os dias e as gerações atuais (por sinal, geniais), poderíamos adicionar à célebre frase uma contribuição: “Plantar uma árvore, ter um filho, escrever um livro e dar vida a uma startup: quatro coisas que cada pessoa deve fazer durante a vida”.

Buscar a autorrealização, influenciar o dia a dia da sociedade, por meio de um modelo de negócio disruptivo e inovador que, em curto período, será escalável, replicável e lucrativo, sem burocracia, brilha os olhos de qualquer jovem e das gerações mais antigas como a minha. Todos concordamos que criar uma startup promissora, com uma ideia revolucionária, não é tarefa fácil e poucos conseguem ter o “insight”, o “clique”, na hora certa, com as pessoas certas e no lugar certo.

No entanto, essa “eureca” tão difícil de ser alcançada e privilégio de poucos pode ser completamente destruída, para infelicidade de todos nós, po armadilhas existentes para qualquer tipo de negócio, sejam eles tradicionais ou inovadores. Não me refiro à concorrência mercadológica, carga tributária excessiva ou outros perigos exógenos inerentes a todos que estão no jogo, mas à nossa capacidade de auto sabotagem, decorrente de uma eventual falta de preparo, visão holística ou até arrogância.

Muitas vezes, o maior inimigo está dentro de casa. Temos a ideia, as pessoas capacitadas, técnicas e um mercado ávido pelas nossas soluções, mas somos incapazes de prever como operacionalizar as nossas ações financeiramente. No money, no game! Para fazer caixa, temos que movimentar a engrenagem, o que pressupõe a entrada e a saída contínua dos recursos, atentando para que a primeira seja maior e mais rápida do que a segunda. Parece óbvio, mas muitos negócios não chegam a completar a maioridade por ignorar essa simples premissa.

Antes de prosseguirmos, é bom deixar claro que ser cuidadoso com o fluxo de caixa operacional da sua startup não significa impor freios à capacidade criativa e à inovação, nem à sede de expansão e conquista de novos territórios e mercados. A obtenção de recursos para viabilizar grandes iniciativas por meio de captações externas de investidores ou bancos pode parecer, e muitas vezes é, uma tarefa difícil, mas ela será ainda mais árdua se não demonstrarmos que merecemos confiança. Toda organização deve ser capaz de saber o que fazer com os recursos existentes e de prever quanto, como, quando e por quanto tempo eles estarão disponíveis. Esse exercício deve ser feito continuamente, todos os dias, todas as horas.
Tudo o que movimenta a sua startup é passível de ser transformado em caixa: o espaço utilizado, as pessoas dedicadas, a tecnologia e os materiais empregados e até mesmo o tempo de criação requerem o investimento de capital. A função de finanças não deve ser relegada a um papel de suporte no negócio, mas sim ocupar o lugar de parceira, ao lado das equipes operacionais, comerciais e demais equipes administrativas, que serão vitais para a continuidade e o sucesso da iniciativa.

Conceitos básicos de finanças e de gestão de caixa, embora por vezes subestimados em nome do crescimento, continuam sendo imprescindíveis, seja lá qual for o tratamento dado a eles (conservador, moderado ou agressivo). Toda empresa, grande ou pequena, tradicional ou inovadora, deve conhecer seus prazos de recebimento e pagamento, seu giro de estoque, seu custo efetivo, seu colchão de liquidez, suas políticas de crédito, desembolso, aplicação e captação de recursos, e assim por diante.

*Sócio da PwC Brasil ([email protected])

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