Fórum Econômico Mundial e COP 27

Eduardo Fayet*
As oportunidades que o mundo desenvolvido tem demonstrado para o Brasil, em especial no Fórum Econômico Mundial e na COP 27, são evidentes e inéditas para um país com o nosso perfil. Ao mesmo tempo, revelam a necessidade de realizarmos várias lições de casa que nos demandarão responsabilidade, visão estratégica e uma capacidade de planejamento e gestão convergentes com interesses de todos e do país, não somente de alguns.
O Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum – WEF) foi criado em 1971, onde reuniu diretores executivos e gerentes seniors, principalmente da Europa, para tratar sobre os desafios do futuro e estratégias corporativas. O principal ator na execução deste simpósio foi o alemão, economista e engenheiro, Klaus Schwab, que buscou minimizar os espaços entre as empresas e seus stakeholders, demonstrando a importância de conhecerem e interagirem com todas as partes interessadas.
As COPs iniciaram em 1995, a partir da ECO92 realizada no Brasil, com a participação de cientistas, ambientalistas, especialistas, empreendedores e gestores preocupados com os desdobramentos dos impactos ambientais já identificados e comprovados por muitos resultados da ação humana sobre a natureza. Em Sharm El Sheikh, no Egito, a COP 27 fechou o primeiro acordo de perdas e danos, isto é, as diretrizes para as compensações de carbono entre os países desenvolvidos e grandes emissores, e os países em desenvolvimento com baixa e média emissão.
A lógica é simples, se os países em desenvolvimento, como o Brasil e os países subdesenvolvidos tiverem atividade econômica equivalente aos países desenvolvidos, o planeta não aguentará e a humanidade será extinta. Dessa forma, a humanidade tem um desafio comum de reestruturar suas atividades econômicas com alto impacto em emissões de carbono e intensificação das mudanças climáticas para atividades com baixa emissão de carbono, a chamada Economia Verde. Essa não é uma questão de crença, mas sim de constatação, comprovação científica e estratégia de sobrevivência de todos, exceto para os “terra planistas”
É importante destacar a simbiose do Fórum Econômico Mundial e das COPs/ONU, dois movimentos que iniciaram com objetivos aparentemente diferentes, mas que se convergem e se complementam em diversos aspectos, principalmente para um país em desenvolvimento, como o Brasil, com tamanho, diversidades, riquezas, democracia, população relevante e com espaço para crescimento
No Fórum, o Brasil teve uma participação central em debates e até mesmo com painéis próprios, “Brasil: um novo roteiro” e “Amazônia em uma encruzilhada”, todos com representantes do alto escalão do governo federal, dispostos a conquistar a atenção de investidores e tomadores de decisão em investimentos verdes e sustentáveis. Além disso, os ministros que participaram trataram recorrentemente sobre “Liderar por exemplo”, afirmando a volta do Brasil para o cenário internacional nas pautas econômicas e ambientais, retomando a posição do país como propulsor da preservação e sustentabilidade.
A presença conjunta das autoridades brasileiras do Executivo e Legislativo nesses eventos mundiais, emitiu uma mensagem importante quanto ao projeto de ações do novo ciclo governamental que se inicia em 2023 e a união dos debates entre economia e sustentabilidade que irão progredir juntos. O compromisso do governo com relação à convergência da retomada do crescimento econômico, com práticas de sustentabilidade fiscal, ambiental e justiça social denotam o entendimento desse novo mundo, com diferentes necessidades e estratégias que já é uma realidade para todos.
Estes posicionamentos geram boas condições para a preocupação crescente das empresas e corporações em implementar as técnicas e ações de ESG (Enviromental, Social and Governance) em suas atividades e operações. O posicionamento do Brasil como suporte ao estabelecimento da democracia no mundo e a melhoria da segurança jurídica, social e ambiental, principalmente na América do Sul, pode promover um fluxo de investimentos importantes para o crescimento econômico sustentável de nosso País.
Quanto às “lições de casa” é fundamental a aprovação do arcabouço legal e regulatório do Mercado de Carbono e a implementação do sistema de compensações e certificação de créditos de carbono para que as empresas possam operar neste novo mercado internacional com segurança e confiabilidade. Ainda no âmbito governamental, a adequada interação e convergência das pastas do planejamento, fundamental para a estratégia, fazenda, meio ambiente, cidades e desenvolvimento, indústria, comércio e serviços proporcionará bons resultados e ambiente positivo para a recepção dos novos investimentos verdes que temos potencial de receber.
Adicionalmente, o protagonismo do Legislativo com o adequado apoio político, institucional, orçamentário e legal, em nosso presidencialismo de coalizão, contribuirá de forma essencial para que de fato possamos aproveitar essa nova oportunidade global que, atualmente, se consolida como um novo ciclo do desenvolvimento da humanidade.
O setor privado por meio dos diversos e amplos setores empresariais que temos distribuídos em todo o território nacional poderão potencializar os ganhos em redução da emissão de carbono, riscos climáticos, melhores condições de trabalho e diversidade na implementação efetiva e produtiva da Economia Verde em todo o País.
A estrutura de universidades e centros de pesquisa tecnológica e inovação e os milhares de pesquisadores e professores podem dar o suporte técnico-científico para sustentar de forma consistente como já fizemos com muitas vacinas, genoma, motor flex, álcool de cana-de-açúcar, pré-sal entre tantas outras tecnologias enovações criadas, desenvolvidas e sustentadas por brasileiros dedicados.
Precisamos ter consciência, responsabilidade, atitude proativa e na implementação da Economia Verde e Sustentável no Brasil. O ativo ambiental e social em nosso país pode ser um “novo pré-sal”, que com competência e dedicação poderá criar a inflexão necessária para nosso desenvolvimento de longo prazo.
* Engenheiro de Produção, Consultor, Empresário e professor da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília (FPMB) na pós-graduação de Relações Governamentais e Institucionais
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