Opinião

Herdeiros que sonham juntos

Herdeiros que sonham juntos
Crédito: Freeimages

Juliana Gonçalves *

Ser o sucessor de uma corporação é sonho dourado de muitos jovens que estão em busca de um lugar no mercado de trabalho. Mas para os herdeiros, sucessores naturais de empresas familiares, essa pode ser a fonte de dúvidas e muitas inseguranças. Herdeiros, muitas vezes, se perdem em sentimentos de incapacidade diante da monstruosidade da realização de seus antepassados. Essa grandiosidade inibe, impede e, algumas vezes, até paralisa.

Cabe aos familiares que estão na atual gestão criar um ambiente de segurança, que acolha a inovação e a criatividade do futuro líder, possibilitando a experimentação com responsabilidade. Afinal, para esse perfil de empresa, o primeiro e o mais importante passo para a perenidade do negócio é ter membros das novas gerações sonhando junto com seus fundadores. O passo seguinte, evidentemente, é a qualificação de seus herdeiros. Pode parecer óbvio, mas, definitivamente, não é.

As famílias empresárias precisam compreender que os herdeiros que optam por trabalhar na empresa têm que ser os melhores; que eles têm a obrigação de agregar valor para a empresa e, consequentemente, para a família. Caso contrário, seria melhor buscar um profissional competente, não familiar, no mercado de trabalho.

O mundo corporativo é cruel, altamente competitivo e tem uma velocidade enorme para transformação. Só os muito qualificados e dedicados têm capacidade de entregar resultados que contribuirão para a longevidade do negócio. A falta de um sucessor com capacitação e competência é o motivo de 10% das empresas familiares serem vendidas para outros grupos empresariais.

Por isso, curso superior nas melhores escolas, pós-graduação, MBA ou mestrado, se possível, fora do país, são imprescindíveis para uma formação de qualidade. Mas ter uma vivência profissional em empresas fora do negócio da família também faz toda a diferença para a formação de um membro da nova geração. É uma oportunidade singular para aprender a trabalhar sem mordomias e privilégios, com metas e cobrança por resultados e, sobretudo, com avaliação de desempenho isenta.

Tal experiência faz muito bem para o profissional que está em formação, uma vez que interfere na autoimagem dele e na imagem que os outros têm daquele herdeiro da família.

Na empresa não familiar, somos todos funcionários com carga horária estabelecida para cinco dias da semana, hora para começar e terminar, férias de acordo com a lei e, em alguns casos, até uniforme.

Mas nem todos os filhos desejam seguir os caminhos traçados pelos pais. São herdeiros que perseguem seus próprios sonhos. É muito grande o percentual de empresas familiares que não possuem representantes das novas gerações, seja da 2ªG ou da 3ªG, que queiram trabalhar na empresa da família. As razões são as mais variadas possíveis.

Apesar de parecer frustrante, não podemos tratar como única alternativa na vida dos herdeiros a continuidade do projeto de seus pais, exigindo uma sucessão não desejada.

Seria, no mínimo, injusto com nossos filhos amputarmos deles o direito de fazer as próprias escolhas, de seguir e buscar os próprios sonhos.

Equalizar as expectativas do fundador com as dos jovens da família é um dos maiores desafios das empresas familiares. Mas, como sempre lembro, a felicidade dos nossos filhos tem de ser o norte a ser alcançado.

* Mestre em Administração pela Fundação Dom Cabral, coach de empresas familiares, sócia da KFamily Business e criadora do programa de trainee para herdeiros, NexGen

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