Holocausto, nunca mais (I)

“Os alemães em geral sabiam e participaram com convicção do Holocausto”. (Daniel Goldhagen, historiador)
Todos os anos, em fevereiro, em cerimônias oficiais de forte conteúdo simbólico, o Holocausto é relembrado. Na Alemanha, que foi um dia visceralmente nazista, as lideranças fazem questão de reavivar as lembranças terríveis de um momento de barbárie suprema que envergonha a história da civilização. Mais uma vez, na solenidade de dias atrás no Parlamento, os governantes germânicos pediram desculpas ao mundo pela tragédia provocada por seus antecessores naquele período densamente trevoso. Condenando veementemente a presença, ainda agora, de alguns nichos saudosistas do nefasto hitlerismo em plagas alemãs e noutros lugares, proclamaram incisivamente, traduzindo o sentimento do mundo, que Holocausto nunca mais.
Anotemos, a propósito mais estas considerações.
O cenário que se contempla no trajeto entre o aeroporto e o centro de Lhassa, ligados por estrada asfaltada que serpenteia os altiplanos himalaianos, é de estonteante beleza. Mas, mesmo aquele turista provido de razoáveis informações acerca das tradicionais formas de expressão da cultura tibetana não tem como não experimentar um certo desassossego quando avista, tremulante em mastros solitários ou afixado nos beirais de uma que outra edificação isolada às margens do caminho, numa antecipação do que será enxergado mais intensamente adiante, o símbolo sagrado que identifica a milenar história do país. Acontece de esse símbolo sagrado ser, nada mais nada menos, que a suástica. Adotada pelo nazismo a configuração que mostra a cruz gamada invertida, como emblema da era de terror implantada por seus adeptos. No Tibete, a marca célebre, propagada ao longo dos séculos pelo budismo, compartilhada por outras correntes religiosas (o hinduismo entre elas), sinaliza bons augúrios, prosperidade, paz, felicidade.
Os registros históricos falam da existência de uma organização mística germânica, denominada Thule, da qual faziam parte altos dignitários nazistas. Essa organização proclamava-se uma versão hodierna dos lendários Cavaleiros Templários. Mantendo vinculações com correntes fundamentalistas tibetanas, foi responsável pela introdução da suástica como bandeira e dístico do Partido Nazista. O significado “ariano” que se emprestou ao símbolo tornou-o sinistra representação de odiosas práticas racistas e do exercício despótico do poder.
Isso explica a razão pela qual, em qualquer lugar do mundo, mesmo a visitantes do longínquo Tibete – onde esse símbolo, muito antes de Adolf Hitler e seus sequazes, inspirava reações de paz, brandura e solidariedade -, a suástica continua sempre a transmitir sobressalto, quando não pavor. Pavor perfeitamente compreensível quando a memória se fixa nas imagens, dados e números das atrocidades cometidas naquele momento tenebroso que a consciência humana resolveu denominar de Holocausto.
Neste 2022, a Humanidade relembra os 77 anos dessa espantosa tragédia inumana, inexoravelmente evocada diante da visão do atemorizante símbolo nazista. Dez milhões de seres humanos, judeus em maioria, polacos, eslavos, ciganos, dissidentes políticos e contestadores religiosos, deficientes mentais, homossexuais, negros, foram trucidados nos campos de extermínio implantados em vários pontos da Europa. Nesses espaços, a eliminação de vidas, em nome do racismo e da intolerância ideológica, “convivia” com trabalho escravo. Na chegada, os prisioneiros ficavam divididos em grupos. Os considerados sem condições físicas para trabalhar eram encaminhados às câmaras de gás. Os demais, por algum tempo pelo menos, enquanto demonstrassem alguma condição para tarefas físicas, prestavam serviços em fábricas. Grupos de prisioneiros cuidavam da remoção dos cadáveres. Os corpos eram lançados, a princípio, em valas. Com o incremento da “tecnologia dos massacres”, passou-se à incineração.
O tema comporta desdobramentos.
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