Opinião

Impactos da guerra em nossas mesas

Impactos da guerra em nossas mesas
Foto: Fabio Alves / Agencia i7

A guerra entre Ucrânia e Rússia desestabilizou o mercado mundial e testemunhamos sérias tensões, especialmente no mercado de commodities agrícolas. Os analistas econômicos e financeiros estão tentando acompanhar e antecipar como será a evolução dos preços de mercadorias desta natureza, commodities, e sua disponibilidade, num mercado que já estava sob pressão antes de Vladimir Putin iniciar a guerra na Ucrânia. Não ouso prever seguramente um futuro. Pairam muitas incertezas.

Porém, considero o momento uma obrigação de reflexão. Um retorno aos anos 2010 nos lembra que a alta dos preços no mercado de cereais, impactando as populações mais frágeis, provocou grandes movimentos sociais e políticos com as consequências que conhecemos nos países árabes.

A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) acaba de publicar projeções sobre o impacto alimentar da guerra na Ucrânia com a Rússia (dois grandes países produtores de grãos). Segundo levantamento, há um aumento da projeção da fome no mundo (de 8 para 13 milhões de pessoas a mais.Todo este contexto soma-se à especulação natural neste tipo situação e é necessário estabelecer parâmetros para manter a economia minimamente viável.

A unanimidade dos países do G7 demonstra a consciência da necessidade de garantir a segurança alimentar já para a Ucrânia, mas também, para além dela. Apela a outros países para que não imponham sanções às exportações de grãos da Rússia e da Ucrânia. O G7 também emitiu um aviso claro dos riscos de comportamento especulativo nos mercados em questão neste contexto (constituição de reservas para proteger contra futuras faltas e acelerar o aumento dos preços) temporariamente nas áreas mais críticas para não deixar a fome alcançar dígitos expressivos em decorrência da guerra. O problema é a emergência se transformar em desculpas maiores para práticas contra o meio ambienta capazes de matar também. Duras escolhas têm os líderes responsáveis da atualidade.

Além disso, outros distúrbios econômicos e monetários, causados por balanços de pagamentos desequilibrados, inevitavelmente levarão a crises monetárias e ao enfraquecimento de algumas moedas. Instituições nacionais ou internacionais com o poder de ajudar, como o FMI, estarão em missão de fornecer apoio financeiro às pessoas e países mais expostos?

Hoje estamos assistindo à primeira guerra desta era da “globalização”, pós-queda do Muro de Berlim em 1989. Mais do que nunca, a coesão internacional é necessária, como a UE acaba de começar a fazer dentro de sua comunidade diante da guerra na Europa, um cenário que não se acreditava há pouco tempo.

 Avalio que o G7, ao excluir a compra de produtos agrícolas das sanções econômicas, está falando e praticando a “Realpolitik” enquanto quer defender a paz e a soberania dos povos. Nisso, a escolha é consciente. Para isso, a escolha é feita.

Realpolitik, termo de origem alemã, é definida como a política realística e refere-se à diplomacia baseada principalmente em considerações práticas, em detrimento de noções ideológicas. Porém, há de considerar que certo pragmatismo econômico se torna indispensável em alguns momentos. Evitar mortes por desabastecimentos de alimentos é um deles.

Vale destacar que falamos de países em guerra com a pandemia de Covid 19. Muitas economias endividadas geralmente conseguiram superar esta situação e seus impactos através de planos de recuperação econômica.

Devemos continuar acreditando e agindo para garantir que isso seja alcançado com extrema vigilância. Na Europa, fala-se hoje em dia de um plano de resiliência diante desta situação de guerra. Mas o que é isso de fato?

Para mim, o objetivo é, antes de tudo, tentar manter um diálogo com os líderes dos países em guerra e agir em conformidade, falar sinceramente às populações dos outros países sobre a queda do poder de compra que está por vir, ajudar as empresas a “encontrarem novos fornecedores e novos pontos de venda.

A história nos ensina que, sejam quais forem as causas, as guerras que pensávamos que pertenciam ao passado podem acontecer novamente. Isto levará tempo e deixará espaço provavelmente para a Realpolitik. 

Gostaria de reforçar que toda essa reflexão e compreensão do mundo, tão complexa hoje, não tem intenção de construção de verdade. É, muito mais, um exercício que me proponho a fazer por meio de minha leitura particular e franco-brasileira. Confesso que meu desejo pessoal é a construção de um cenário político e econômico em que a solução de conflitos seja acessada pela governança global que reconhece e sustenta a democracia e o direito das nações.

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