Opinião

Impactos da pandemia no setor de transporte

Impactos da pandemia no setor de transporte
Crédito: Alisson J. Silva/Arquivo DC 04/02/10

Rubens Lessa*

Os sistemas de transporte de passageiros urbano e interestadual no País enfrentam há vários anos problemas para continuar operando. As sucessivas crises econômicas com a falta de investimentos na infraestrutura da malha rodoviária e de corredores de faixas exclusivas nas cidades tornaram os custos de operação ainda mais caros.

E para não dizer que os problemas se limitaram apenas nessa esfera, o setor ainda enfrenta diariamente a concorrência desleal do transporte clandestino e dos aplicativos de transporte.

Desde 2013 o setor tem sofrido perdas significativas na demanda de passageiros, e mesmo com as dificuldades o serviço vinha se mantendo firme em suas operações. Mas nada comparado ao cenário atual com a pandemia do Covid-19. As medidas de isolamento social afetaram duramente as empresas. O setor já se encontrava em pré-colapso e, se nada for feito, o colapso total está perto de acontecer.

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Os dados são alarmantes, a queda na demanda de passageiros superou os 70%. Mesmo com todas essas restrições, o serviço de transporte de passageiros por ônibus continua funcionando, ofertando mais de 50% das viagens, sendo o principal meio de transporte para levar a maioria da população aos hospitais, farmácias e supermercados, e de trabalhadores que estão fora da quarentena por exercer serviços essenciais, como motoristas, coletores de lixo,  funcionários da saúde, policiais militares e bombeiros, policiais civis e guardas municipais, entre outras profissões.

Recentemente a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) produziu um relatório que contabilizou mais de R$ 2,5 bilhões em prejuízos do setor no Brasil. Já a Associação Brasileira de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), que reúne as companhias de ônibus interestaduais, informou que as empresas tiveram prejuízos de R$ 2,8 bilhões até agora, o que representa 40% do faturamento anual. Em números, o segmento de transporte de passageiros no Brasil gera mais de 1,8 milhão de empregos diretos e indiretos. Só em Minas Gerais são mais de 100 mil.

E o cenário não é favorável para os próximos meses. Com esse total desequilíbrio entre a oferta e a demanda, a conta das empresas de transportes não fecha e torna a situação ainda mais insustentável. Se o governo federal não adotar nenhuma medida de socorro como a que deve beneficiar o setor de aviação, o quadro ainda tende a piorar ainda mais.

No Brasil, será necessária a compreensão do poder público para evitar as demissões. O ministro da Economia Paulo Guedes, recentemente em entrevista, destacou a importância de manter o sistema de transporte público operando para poder garantir a mobilidade da população, principalmente a de baixa renda, que depende exclusivamente do transporte público.

E sinalizou uma verba do Programa Mais Brasil, para estados e municípios, com parte para custear os prejuízos do setor nesse momento de pandemia. Em muitos países, o governo tem subsidiado os prejuízos das empresas para manter o transporte coletivo operando.

Além do auxílio, necessitamos retomar gradualmente nossas atividades com segurança, seguindo todos os protocolos do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde (OMS), ou não teremos como evitar a falência das empresas e a suspensão total do serviço nos próximos meses.

* Diretor da Confederação Nacional de Transporte (CNT), presidente do Conselho do Sest Senat e da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros de Minas Gerais – Fetram

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