Impactos da remodelação de linhas férreas para a economia

Guilherme Corlaitti Santos *
O Brasil possui mais de 30 mil quilômetros de malha ferroviária responsável pelo transporte de cargas e passageiros. Apesar de o país ainda investir pouco em ferrovias, esse tipo de transporte só tem a agregar. Não é por acaso que, após a aprovação do Marco Legal das Ferrovias, a projeção de investimento está estimada em cerca de R$ 258 bilhões em recursos 100% privados, segundo informações da Agência Nacional de Transporte Terrestre e do Ministério da Infraestrutura.
Esses investimentos são para construção e remodelação de linhas férreas. A remodelação é uma prática cada vez mais comum não só no Brasil, mas em todo mundo, e consiste na troca dos dormentes de madeira por de concreto (dormentes são “vigas” horizontais instaladas abaixo dos trilhos com o objetivo de mantê-los alinhados e nivelados). A realização dessas trocas proporciona inúmeros benefícios, tanto para os usuários quanto para a economia e o meio ambiente.
Um dos principais benefícios da remodelação de linhas férreas é a melhoria da segurança operacional. Uma vez que a substituição de trilhos e dormentes, reduzem drasticamente os riscos de acidentes como os descarrilamentos. Isso é especialmente importante em linhas férreas que transportam cargas pesadas ou passageiros.
Além da segurança, a remodelação também aumenta a capacidade das linhas férreas e a velocidade dos trens, permitindo que sejam transportados mais passageiros ou cargas em menor tempo. Hoje, por exemplo, o dormente de madeira é de eucalipto tratado, que tem vida útil de três a cinco anos e suporta uma capacidade de 25 toneladas por eixo de acordo com o perfil do trilho. Geralmente, o trem trafega em velocidade média de 27km/h até 40km/h dependendo da localidade já após nossos serviços de remodelação com a troca para o dormente de concreto entregamos a via com capacidade de atingir uma velocidade média de até 60km/h, ou seja, supera-se em mais de 50% o volume escoado pelas concessionárias, uma vez que o dormente de concreto tem capacidade de suportar até 32,5 toneladas por eixo. Além disso, o dormente de concreto apresenta melhor qualidade, reduzindo a necessidade de manutenções corretivas ou preventivas e conta com uma vida útil estimada de cinquenta anos. A consequência disso é a melhoria na eficiência do sistema ferroviário e a redução de custos de transporte para empresas e consumidores.
A remodelação também pode ter um impacto positivo no meio ambiente, com a atualização de motores de trens que reduzem a emissão de gases poluentes e melhoram a pegada de carbono do sistema ferroviário. Para se ter uma ideia, o transporte ferroviário é por si só o mais responsável com o meio ambiente. É possível fazer essa afirmação porque o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) realizou um estudo e apontou que o transporte de carga foi responsável pela emissão de mais de 102 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 2020. Os dados, também publicados pela Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), revelam que enquanto o transporte rodoviário foi responsável pela emissão de 95 milhões de toneladas de CO2 (93,13%), o modal ferroviário emitiu cerca de 3 milhões de toneladas, o que corresponde a 2,94% do total.
A remodelação de linhas férreas estimula o desenvolvimento econômico, proporcionando novas oportunidades de negócios e empregos, incentivando o desenvolvimento de áreas próximas às linhas férreas e, por isso, é essencial que governos e empresas invistam nessa prática para garantir um transporte mais seguro, eficiente e sustentável para todos.
*Engenheiro Civil, gerente de obra da Cotrin – Construtora Trindade
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