Interpretando a manutenção da taxa de juros

Após doze reuniões consecutivas de elevação da taxa Selic, nossa taxa básica de juros, o Copom, em uma decisão que não teve unanimidade, decidiu manter a taxa em 13,75% a.a. Esse é o maior ciclo de altas consecutivas desde 1999, subindo 11,75%. Parece muito. E é! Mas, cabe dizer, muitos economistas consideram um mal necessário.
Vamos aos fatos, antes de olharmos as interpretações. O Brasil, geralmente, combate inflação com políticas que necessariamente passam por elevação da taxa de juros e, como esperado, dessa vez funcionou. A inflação brasileira, medida pelo IPCA, vem baixando nos últimos meses de forma consistente, estando agora em 8,73% no acumulado de 12 meses e 4,39% no ano de 2022. Por fim, é importante reforçar que o mundo está em crise. Nesse sentido, ressaltamos uma crise inflacionária em países que não estavam acostumados a trabalhar com esse problema; existe uma guerra de proporções incômodas em andamento no leste europeu; uma Rússia machucada com as pressões dos países ocidentais; e, ainda, potencialmente uma crise energética a caminho da Europa, em um inverno que tende a ser bastante rigoroso.
Agora que já falamos de fatos, vamos falar de interpretações.
Começando com a nossa interpretação da manutenção da taxa Selic nos patamares de 13,75%, acredito que foi acertada. E, quando falo acredito, é porque vejo espaço inclusive para novo aumento. Se eu fosse um médico avaliando a situação do paciente Brasil, diria que a dosagem do medicamento – elevação da taxa de juros – está surtindo efeito para reduzir a febre – inflação – do paciente. Contudo, a virose ainda está ativa. Dessa forma, precisamos ter espaço de manobra e, principalmente, não podemos matar o paciente com a dosagem do remédio. De que adianta eliminar a doença, se o paciente morre junto?
Também podemos observar que os Estados Unidos, a Inglaterra e outros países já começaram a movimentar as suas taxas básicas de juros para cima. Isso significa que, por pressão monetária, haverá uma desaceleração das atividades econômicas, o que poderá impactar o Brasil em câmbio, em exportações e na própria atividade econômica. Esse movimento do mundo poderá antecipar um processo de “alívio” na Selic, mesmo a sua previsão sendo uma manutenção nos atuais patamares até julho de 2023.
Explicando um pouco melhor: como a demanda externa tenderá a diminuir, devemos ter um excedente de produção, o que tende a provocar uma redução dos preços. Essa redução de preços, por sua vez, tende a provocar uma redução de inflação, permitindo o Copom, do Banco Central do Brasil, rever suas estratégias permitindo uma redução da Selic. Só peço que observe que se trata de uma tendência e não uma previsão.
É claro que essa é a minha avaliação. Existem analistas vendo o mundo de forma bastante diferente. Há os que apontam para uma visão mais pessimista, achando que nada vai melhorar. Há outros acreditando que o caminho é liberar crédito no mercado, incentivar o consumo e ver como a indústria responde. Tendo a ser mais conservador, ponderando que estamos em ano eleitoral, com um mundo complexo. O momento é de olhar para frente, arrumando a casa e buscando, de forma equilibrada, atender os anseios da população, dos mercados e do mundo.
E nós? Vamos em frente, aguardando os “sinais” do mundo para podermos tomar as melhores decisões por aqui!
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