Opinião

Isolamento social x criatividade

Isolamento social x criatividade
Crédito: Freepik

Muito se tem discutido como será o novo normal pós-pandemia no meio empresarial. As preocupações vão desde aspectos econômicos em relação ao custo dos escritórios, passando por questões de gestão, pertencimento e  criatividade.

Será que a solução será a mesma para todas as empresas? Será que uma indústria manufatureira vai adotar as mesmas práticas que um escritório de advocacia ou uma empresa desenvolvedora de software totalmente inserida na economia 4.0? 

Uma coisa é certa. Equipes não precisam mais  estar 100% presentes para que  a organização funcione e se desenvolva. Fábricas podem optar pelo home office para suas equipes de escritório. Mas, dependendo do tamanho da empresa, a interação entre áreas de apoio e operacional passa a ser um desafio principalmente nas empresas de pequeno porte.

Mas vamos nos voltar para as organizações onde o trabalho intelectual é a base do desenvolvimento de seus serviços e produtos. É em torno delas que gira a discussão, não existindo ainda uma opinião unânime sobre o assunto. 

Empresas como o Google já estão agendando o retorno de seus funcionários para os escritórios, alegando que não existe criatividade no  isolamento social. O convívio entre os funcionários é essencial.  Outras ainda estudam o que fazer e um outro grupo de empresas já  preconiza  formas híbridas de trabalho tão logo a normalidade esteja de volta.
Surge a pergunta. Qual é o impacto que o isolamento pode ter sobre a criatividade?

Cada vez mais as empresas precisam ser criativas e inovadoras. Criatividade e inovação são um importante pilar da cultura organizacional. O isolamento social por longo tempo permitirá manter ou aumentar os níveis de criatividade? 

Por outro lado, as pesquisas mostram que o isolamento é um excelente refúgio para o pensamento, sendo a solidão um ingrediente muito importante para a criatividade. Por vezes a pressão social, quando o indivíduo está em grupo, é um inibidor das ideias disruptivas, que levam à inovação. 

Interessante também analisar situações nas quais o colaborador é  parte de uma equipe ligada à  inovação contínua  ou está atrelado a uma inovação disruptiva. 

No primeiro caso os processos são compartilhados enquanto que no segundo caso mentes solitárias se debruçam sobre os desafios. 

Pessoas que gostam de pensar mais em grupo são provavelmente mais afetadas pelo isolamento social. Os solitários produzem melhor quando isolados.

Para que possamos atuar bem e de forma criativa no isolamento é necessário estarmos num ambiente calmo e saudável. Grande parte da força de trabalho atuando no isolamento social vive sob uma enorme pressão e vários medos, sejam eles a ansiedade, as tarefas domésticas, dificuldades em relação a adaptações e medo em relação ao futuro. Assim sendo, a mola criativa obviamente está afetada. 

As lideranças também precisam estar muito atentas e cuidar para que não provoquem ansiedade e pressões desnecessárias administrando suas equipes a distância. Ao contrário, precisam buscar ao máximo a motivação de suas equipes. Novas formas de liderar precisarão portanto ser desenvolvidas e aplicadas. 

Neste contexto algumas reflexões precisarão ser feitas, a partir de algumas perguntas:

Será que obrigatoriamente o funcionário precisará estar presente em tempo integral no local de trabalho? Será que o relaxamento social em si já não é uma condicionante que leva ao estágio anterior à pandemia? Será que a criatividade está fortemente atrelada à presença no local de trabalho?

Acredito que cada empresa adotará o modus vivendi que melhor se encaixar na sua equação: tipo de serviço / produto X inovação continuada / disruptiva X perfil da equipe / indivíduos. O desafio está à nossa frente. Formas híbridas de trabalho precisarão de novas técnicas de gestão e de um novo tipo de líder.

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