Ledos enganos: aprendendo com o agronegócio

Carlos Maurício de Carvalho Ferreira*
A agricultura e a pecuária constituem nos dias de hoje um setor pujante da economia brasileira, cujas mudanças profundas ocorrem a partir da década dos anos 90 do século passado. O que é mais intrigante é o relativo desinteresse e, mesmo, bastante desconhecimento da nossa elite cultural, acadêmica e técnica urbana por essas mudanças.
Pode-se dizer que essas mudanças se deveram a dois eixos fundamentais: primeiro, as expressivas inovações tecnológicas poupadoras de terra e de altíssima produtividade, ou seja, produzindo cada vez maiores quantidades de produtos agrícolas e pecuários por hectare; segundo, por mudanças institucionais com o apoio determinante de instituições públicas de elevado padrão técnico e acadêmico, desde a década de 1950, como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), e por expressivos investimentos em ciências agrárias nas universidades e institutos de pesquisa, como a Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Não é por acaso que o Plano Safra deste ano está disponibilizando mais de R$ 236 bilhões para financiamentos agropecuários. Em 1965, o governo federal cria o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNR) e a partir de 1973 é criada a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), visando evitar iminente crise de abastecimento alimentar, que se tornou em uma das mais importantes instituições de pesquisa do mundo para o desenvolvimento de pesquisas, que resultaram na integração do Cerrado, que atualmente produz quase a metade de grãos do Brasil.
Enfim, foi a visão estratégica científica e tecnológica governamental que promoveu o pujante agronegócio do Brasil, que não existiria se não fossem criadas as instituições fundamentais e feitos os investimentos necessários. Ledos enganos acreditar-se que as economias mundiais dominantes não fizeram e não fazem investimentos públicos e incentivos a investimentos privados em setores fundamentais para suas sobrevivências, estabilidade e hegemonia socioeconômica e militar: a tecnologia 5G (Internet das Coisas) é hoje a principal disputa tecnológica internacional.
No Brasil a agricultura de grande escala de produção baseada em intensa inovação tecnológica em sua cadeia produtiva (sementes, defensivos, armazenamento, transporte, etc.) está concentrada essencialmente nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul.
Em todo o País há convivência entre a Agricultura Familiar e a Grande Produção Rural que ainda exige atenção particular. Nesse contexto, vale considerar que em Minas Gerais o setor público realizou anos atrás o importante Programa de Apoio aos Pequenos Produtores Rurais e importante estudo sobre o Cerrado. A questão da migração urbana-rural tem um aspecto diferente na atualidade.
O campo demanda hoje em dia trabalhadores qualificados, para operar máquinas de semeadura e colheita, com sofisticados dispositivos de eletrônicos, e uma complexa gestão de cadeia logística de transporte para fornecimento de matérias-primas e de armazenamento e distribuição, que tem atraído mão de obra cada vez mais especializada, alterando a composição da migração, agora para o interior. O Brasil atualmente alimenta nossa população de 210 milhões de pessoas e ainda exporta seus produtos agrícolas e pecuários para 160 outros países.
Estima-se que no Brasil havia 4,4 milhões de pequenos produtores rurais (dados de 2006), importantíssimos, em particular para a produção hortifrutigranjeira e leiteira do País. Estudos indicam quase 60% desse contingente tem baixa produtividade.
No caso particular de produção de leite, pesquisas realizadas mostram dificuldades que ainda devem ser superadas, tal como margens de lucro negativas em pequenas propriedades, que significa que muitos desses pequenos produtores não conseguem remunerar totalmente a mão de obra familiar ou cobrir as depreciações de seus investimentos.
Enfim, é recomendável que olhemos para o campo com um novo olhar e fiquemos atentos à resposta da enquete recente feita pela Revista Fortune a Gerentes dos mais importantes empreendimentos do mundo; 75% declaram que o novo normal em suas empresas será a ênfase absoluta na inovação tecnológica.
*Economista
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