Opinião

Mais anglicismo

Mais anglicismo
#Opinião | Imagem: Pexels/ Adaptação: Will Araújo

Ainda sobre uma matéria publicada nesta página sob o título “Do you speak English?” andei passeando outra vez pelas páginas de nossas mídias em geral e me surpreendi com a quantidade de novos anglicismos citados como se fossem em português e compreendi que o caso é mais grave que pensávamos. Não vou dar muitos exemplos, mas parece-me que a língua portuguesa, de repente, se tornou pobre para explicar vários fenômenos novos, todos bem entendidos pela garotada desde que pronunciados e escritos in English, please. Assim, streaming, se o leitor desconhece, é aquilo transmitido de imediato pela internet. Por que não dizer “transmissão imediata”?

Todos sabem que há palavras em cada língua que são difíceis de ser traduzidas ou explicadas em outra. Que o digam os tradutores de Guimarães Rosa abrindo sua obra prima com “Nonada”. “Amazing” é uma equivalente inglesa com dificuldade para traduzir. Uma coisa “amazing” para os americanos ou ingleses é, necessariamente, algo bacana, então por que não usar esta como sinônimo daquela? São palavras equivalentes na língua de Shakespeare e de Camões. Não seria bacana aceitá-la e adotá-la?

Em economês, o anglicismo anda com passos largos, basta dar uma olhada no caderno de economia da nossa mídia. Algum leitor conhece as iniciais IPO, hoje quase uma palavra? É o lançamento inicial de venda de ações de uma sociedade anônima que resolve abrir seu capital na bolsa de valores e sempre é pronunciada em inglês: aipiô. É incrível que ainda não tenhamos um vocábulo para isso e sempre que ela é citada nos jornais, é seguida do seu significado.

Quem não sabe o que é deletar, hoje termo corriqueiro entre os aficionados pela informática? Outras surpreendem quem se mete a traduzi-la. Já ouvi gente boa dizer “John Wayne é uma legenda do cinema americano”, como se ele fosse subtitles de filmes da netflix, traduzindo mal a tal de “legend”. Há outras que engana os tradutores de filmes que metem nos diálogos: “Fulano não realizou o que eu quis dizer”. “To realize” é o que deveríamos chamar de amigos falsos durante os cursos de inglês. Dá mesmo a impressão de ser o verbo realizar, mas não é. Silicon pode dar a entender que é silicone, mas também não é.

Dessa forma, vamos levando as duas línguas com alguns poliglotas rindo das traduções ou versões e monoglotas constrangendo as palavras.

Estranho que a língua francesa anda perdendo lamentável prestígio intelectual. Já não se ouve mais a bela pronúncia de Gerard Philip como nos velhos filmes dos anos 1960 ou a pronúncia choramingada de Brigite Bardot com 22 anos de idade no filme “E Deus criou a mulher”, que deixou minha geração atordoada só de ouvi-la na sua língua materna.

Triste mesmo vai ser quando um brasileiro americanófilo fizer serenata (ainda se faz?) pra namorada e o apaixonado soltar lá: “Open de window gorgeous woman and come out to say good bye the one who adores you.”

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