Mobilidade empacada

Mobilidade foi uma daquelas palavras que ganharam o centro das atenções mas acabaram consumidas pelo uso excessivo, pior, vazio. No início da década passada estava em todas – quase – as bocas, centro de discussões que desaguaram nos preparativos para a Copa do Mundo de Futebol. Assim pelo menos foram justificados os gastos excessivos e claramente destoantes da realidade do País, acompanhados da promessa de um “legado” que iria muito além dos jogos de futebol, seria a herança compartilhada por todos os brasileiros. Palavras vazias e assim logo esquecidas, com o que deveria ser melhorado ficando ainda pior.
Exato. No ano de 2013, com manifestações de rua que variavam entre condenação dos gastos com a Copa, com a própria escolha do País para sediar o evento, corrupção e a precariedade do transporte coletivo, não faltaram promessas também deixadas de lado. Literalmente, a mobilidade empacou, conforme atestam dados recentemente tornados públicos e relativos aos investimentos na área que na última década caiu à metade, menos até que o realizado no período anterior, caindo de R$ 8,6 bilhões para R$ 4,1 bilhões. Como não será despropositado afirmar que também a gestão pública perdeu suas mínimas referências de eficácia, no mesmo período subsídios para veículos e combustíveis só aumentaram. Vender automóveis, sempre mais automóveis, sem ter em conta que seria preciso, e na mesma proporção, garantir espaços para sua circulação. Ou a esquecida mobilidade que não recebeu nem a metade dos R$ 8,8 bilhões consumidos com isenções tributárias para facilitar a compra de veículos que não deveriam sair de suas garagens.
Apenas no último ano da gestão anterior, com os preços dos derivados de petróleo alcançando alturas nunca atingidas, a desoneração de impostos sobre combustíveis consumiu R$ 29,9 bilhões. No ano passado os investimentos em transporte coletivo e de massa não somaram mais que 10% dos subsídios. Lembrar que a conta não fecha seria apenas mais um despropósito e ainda assim faltando acrescentar que no período a demanda aumentou, seja por crescimento meramente vegetativo, seja porque a perda de poder aquisitivo deslocou usuários do transporte individual para o coletivo.
Para mudar esse quadro ou, pelo menos, dotar as regiões metropolitanas brasileiras de serviços semelhantes aos ofertados em Santiago do Chile e Cidade do México seria preciso investir, e de uma só vez, R$ 295 bilhões, ou 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Resta concluir que prosseguiremos sem sair do lugar.
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