Opinião

Moda sustentável como manifestação de comportamento

Moda sustentável como manifestação de comportamento
Crédito: Divulgação

Moda sustentável é um termo que deve ser pronunciado com muita cautela, como tantas outras pautas relevantes e sensíveis as quais nos propomos refletir, debater, repensar e propor novas atitudes.

Como várias pessoas, tenho minha vaidade e vontade de manifestar quem sou por meio das minhas escolhas. “Vestir uma camisa”, ou qualquer peça de roupa, possui diversos significados que nos permitem demonstrar nossos valores, cultura, tribos e grupos aos quais pertencemos, o que nos move e quais são nossos ideais, seja de forma discreta ou explícita. A cada dia quando vestimos algo, transmitimos uma mensagem e nos comunicamos, mesmo quando não temos a intenção (o silêncio é também uma forma de dizer algo). A moda, principalmente desde a revolução industrial, faz história, dita tendências, apresenta momentos pelos quais o mundo vive, e ter acesso às inúmeras possibilidades nos permite expressar nossa liberdade. Mas além disso, a moda, ao mesmo tempo que expõe quem somos, também expõe o que temos ou deixamos de ter: bem-estar, conforto, autoestima e inclusão social, questões essenciais a todo o ser humano.

A possibilidade de demonstrar sua personalidade e comportamento pelas suas roupas (variedade de peças, modelos, tecidos, marcas) e sua capacidade de seguir as tendências promovem sensações de prazer, de poder e de felicidade. Mas o que o consumo da moda acarreta, além destes benefícios individuais? Conhecida como a filha predileta do Capitalismo, a moda se transformou em uma das indústrias mais prejudiciais para o planeta. Promovido principalmente após a 2ª Guerra Mundial, o consumo desenfreado da moda deu origem ao fast fashion, movimento caracterizado pela compra em excesso, desperdício e descarte inadequados de roupas, calçados e acessórios.

A moda tornou-se um dos principais vilões na cadeia de produtos que geram uma montanha de lixo, ocupando o 5º lugar no ranking das indústrias mais poluentes do mundo pela emissão de CO2, de acordo com artigo publicado no blog da Insecta Shoes, citando Francesca Willow, do blog Ethical Unicorn. Além disso, sua cadeia produtiva pode causar uma série de consequências negativas aos envolvidos, incluindo mão de obra escrava. Neste caso, as maiores prejudicadas são as mulheres, representadas pelas costureiras que estão lá na ponta do processo e que chegam a trabalhar mais do que 14 horas por dia.

De acordo com o Dieese, em dados publicados no portal de notícias “Brasil de Fato”, o complexo setorial compreendido por Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados emprega cerca de 2,7 milhões de pessoas. Mais de 70% são mulheres. Dentre estas, 58% são informais e 80% não contribuem com a Previdência. Além de mais uma vez ganharem menos do que os homens, sofrem ainda com inúmeros casos de assédio moral e sexual por parte dos contratantes ou chefes das oficinas.

Aqui trago apenas alguns pontos para introduzir este assunto tão abrangente e, como conselheira do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB), aproveito para ressaltar que já existem diversas marcas de moda filiadas e que atuam fortemente dentro do movimento, se propondo a introduzir melhores práticas em sua cadeia produtiva, entendendo como cada etapa do processo pode ser revista e aprimorada com base nos quatro pilares do ICCB (Propósito Maior, Cultura Consciente, Liderança Consciente e Orientação para Stakeholder), contribuindo assim para gerar impacto positivo e atuar com ações relevantes para a virada deste jogo, que tem um grande caminho a ser percorrido nas atuais conjunturas da economia.

Além destas empresas que possuem um propósito maior além do lucro, há também diversas iniciativas dentro do mercado da Moda Sustentável que se destacam com resultados expressivos, estudos, pesquisas e projetos inspiradores, e faço questão de citar aqui o Fashion Revolution Brasil e o Instituto Modefica, fontes que consulto regularmente para me manter informada. E, buscando me tornar uma consumidora mais consciente, deixo como sugestão alternativas para pessoas que gostam de se manifestar pelo que vestem, que vão ao encontro do conceito do slow fashion: aquisições em brechós, locação em lojas de guarda-roupas compartilhados, reforma de peças com excelentes costureiras, upcycling ou customização DIY, além da troca ou empréstimo com pessoas próximas.

Na revolução que desejamos e lutamos, cabe também um capítulo muito impactante relacionado ao consumo consciente de moda. Por isso, espero que possamos ser protagonistas, optando por caminhos que contribuam com a regeneração do meio ambiente, os direitos das mulheres e o bem da sociedade em geral.

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