Músculos e neurônios

Este articulista conhece apenas por fotografia o deputado Daniel Silveira e o ministro Alexandre de Moraes, ambos me deixando invejoso pelo tanto que são malhados em academia, elegantes e fortes frente ao espelho.
Imagino ainda que para ter o físico que têm, é preciso ficar pelo menos umas duas horas diárias levantando pesos e medidas (sem trocadilho) e mais aqueles aparelhos endurecedores de músculos em quem pretende expor seu belo corpo quando precisar.
Mas diante dessa imaginação, fico matutando por onde andam os neurônios dos dois. Os do deputado, pelo seu linguajar chulo e desnecessário, andam desocupados, picando fumo pelo interior do seu psiquismo sem o que fazer além dessa atividade tão trabalhosa.
Sem ler um livro por ano, sem vocabulário digno, mal-educado e desesperado para aparecer nas redes sociais, ele fez o que não devia e, sem pensar que seria o primeiro a ser punido de uma longa lista de colegas ofendendo a Corte com palavras, gestos e gravações, está há dias literalmente preso.
É possível que o deputado tenha se baseado em gravação que circula nas mesmas redes sociais do então advogado Alexandre de Moraes dizendo horrores sobre aqueles que seriam seus colegas pouco tempo depois. Nessas mesmas redes sociais há dezenas de outros vídeos com conteúdos até piores que o do deputado e que resultaram em nada para seus autores.
Daniel calculou que os onze leões da cova que ele mesmo cavava seriam apaziguados por milagre de Deus ou do Congresso, instituição logo abaixo Dele. O que ele diz, na forma, não é diferente do que pensa a maioria do povo brasileiro sobre os deuses togados e qualquer fechadura do STF sabe disso.
Mas o conteúdo mexeu demais com os brios do ministro que resolveu lhe dar uma lição. Aliás, lição e limites são o que parecem nunca ter existido na vida do deputado. Com o pedigree civil e policial que tem, é sinal de que
não lhe foi constituído o Superego, esse postulado freudiano construído ao longo da vida quando o infante assimila ou não ou “não” e os “sim” da vida, impostos pelo par parental, professores, colegas e a vida, criando caráter capaz de ser produtivo ou não na sociedade.
Em casos semelhantes e sem imunidade constitucional com frequência, os limites são impostos pela policia ou até por tiro. No caso do Daniel foi o STF. Mas convenhamos isso não é tarefa de Corte Suprema e menos ainda de seus integrantes que se sentem ofendidos pelo conteúdo de ódio do vídeo.
Se se falta ao deputado tudo aquilo freudiano, imagina-se que haja outro caminho para lhe dar uma lição de vida, menos a cadeia, porque a CF lhe garante o direito de opinião mais que qualquer outro cidadão. A partir dessa prisão, seu cacife eleitoral aumentará para demonstrar o que o povo sente com relação ao STF e, pior, ficará difícil a qualquer integrante do Congresso medir qual é o limite de suas opiniões sobre qualquer autoridade constituída, por que haverá o risco de ser preso.
A um juiz espera-se a existência de mais neurônios e menos músculos, bom senso, paciência, isenção partidária, congruência e outras virtudes de pessoas inteligentes e conhecedoras do Direito. O que não se espera é resposta odiosa a ofensas odientas. Afinal os onze chegaram ao posto máximo de quem se graduou em Direito por causa de seus conhecimentos jurídicos.
Mas o que vimos? Falou mais alto o espírito de corpo, cujo ódio de um foi ratificado pelos dez restantes. Agindo com emoção e repugnância, nenhum deles parou para pensar que houve outros casos semelhantes e que os mesmos juízes não fizeram nada.
Nenhum deles pensou que, afinal eles são os guardiões da CF e esta autoriza os integrantes do Congresso a dar sua opinião sem correr o risco de ser punido. Se houver exagero nos disparates, que se recorra à própria Câmara que decidirá pelo destino do desatinado. É assim que funciona uma democracia da qual a Suprema Corte é parte integrante.
Talvez ela tenha se colocado no lugar da Câmara e projetado todo seu espírito de corpo. Se isso ocorresse não aconteceria nada com o deputado. É assim que surgem as injustiças: julgar as pessoas por aquilo que somos e
fazemos.
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