Negacionista-padrão

“O negacionismo obsedante é refúgio do despreparo intelectual somado à fanatice”. (Antônio Luiz da Costa, educador)
Rozendo Pelópidas do Abaeté, negacionista juramentado, diria o prefeito Odorico Paraguaçu. Abastado homem de negócios, chefe político influente e temido na região de Riacho das Roseiras. Gaba-se de ser proprietário de fazenda com mais léguas de comprimento do que o Principado de Andorra. Adepto ardoroso das teses do talebanismo tupiniquim, acompanha freneticamente, nas redes sociais, as postagens divulgadas por robôs, mecânicos ou humanos. Aceita a teoria da “Terra plana”.
Acrescenta, convicto, que a “terra plana é quadrada e fixa”, possuindo nas extremidades, “mode que impedir as pessoas caírem num vazio sem fim”, uma cerca invisível formada de “ondas magnéticas provindas do sol, lua e estrelas em seu contínuo giro ao redor de nosso planeta”. Em sua opinião, “essas histórias de racismo e efeito estufa são coisas de ONGs infestadas de subversivos e maricas”.
Acha que a Covid-19 é “uma guerra bacteriológica contra os valores da civilização”. Tem plena certeza de que as estatísticas do consórcio dos meios de comunicação “são falsas e atendem a interesses escusos”. Considera Trump “o maior estadista do mundo”. “Ele foi garfado na eleição”, afirma, esbravejante. Sustenta que “a mídia mundial está a serviço da subversão”. Confessa-se católico praticante, mas se opõe aos “atos e falas desse Papa argentino”. “Ele carece de ler o catecismo”, anota, um tanto irado. “Para o bem geral da Nação, o Congresso e o STF deveriam ser fechados”. “Para fazer isso basta um cabo e um soldado, como já declarou um ilustrado parlamentar”, exclama, em tom entre exultante e raivoso. Aplaude “a salutar e oportuna campanha pelo voto impresso”, observando, todavia, que “muito melhor mesmo seria a adoção do voto a bico de pena”. É contrário à reclusão social e à vacinação, lembrando que “existem preparados medicamentosos altamente eficazes pra extirpar a praga”. Entrou em atrito com filho, farmacêutico, e a nora, médica, pelo fato de haverem, sem seu consentimento, tomado vacina. Mandou dizer a ambos que só voltem a pôr os pés em sua residência depois de realizarem “todos os exames de tomografia e raio X que permitam a localização e a retirada dos chips que alteram o comportamento e até fazem brotar nos braços e pernas fibras escamosas”. Rozendo Pelópidas do Abaeté, negacionista juramentado.
Vez do leitor. Sobre a série “A partícula de Deus”, recebi algumas mensagens. 1) Coronel Klinger Sobreira de Almeida – sócio-fundador da Academia de Letras Guimarães Rosa, da PMMG: “Interessante e elucidativo os artigos, em três séries, “A partícula de Deus”. Induzem à reflexão nesta época de comunicação excessiva, às vezes entusiástica, mas sem lastro sólido. Respeitamos a Ciência que se desenvolve e evolui sob a égide desse infinito – indefinível e indecifrável – poder cósmico: Deus. Porém, desde o século do iluminismo, alguns cientistas se inebriam no torvelinho do alto conhecimento e querem desvendar o indesvendável; em deslumbramento, acham que chegaram, e não desconfiam que estão infinitamente distantes. Saibamos perdoar-lhes essa fraqueza humana, pois no meio científico sobressaem grandezas como Einstein, madame Curie e muitos outros, que nos trazem luzes, mas souberam respeitar os limites. Seus artigos servem para esclarecer os incipientes, ou mesmo despertar os tolos e aqueles que se entusiasmam com as miríades de verdades lançadas de tempos em tempos, e que, no próprio tempo, se derretem.” 2) Escritor Luiz Giffoni, membro da Academia Mineira de Letras: “Caro Vanucci, Parabéns pela série de comentários sobre A Partícula de Deus. Gostei muito.” 3) Jornalista Orlando de Almeida: “Mestre e amigo Cesar, Acabo de ler os três comentários sobre a Partícula de Deus. Faço minhas cada uma de suas dúvidas. E concluo, resumindo a ópera: duvi-de-o-dó.”
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