Opinião

O acadêmico JK

Cesar Vanucci*

“Alegre como uma janela aberta”. (Paulo Pinheiro Chagas, referindo-se a Juscelino)

Reproduzo agora a última parte do discurso que fiz ao ser novamente empossado na presidência da Amulmig.

“Quero reafirmar, nesta singela fala, minha inabalável crença nos valores da brasilidade. Mesmo em instantes pontuados por adversidades, frustrações e perplexidades, é preciso cultivar na inteireza o sentimento nacional. O Brasil é maior, infinitamente maior, do que os problemas (…) suscitados pelos desatinos políticos e incompetência administrativa, que tanta indignação descarregam nas ruas. Não há como desacreditar das virtualidades da (…) gente brasileira, nem desconhecer das potencialidade incomparáveis deste país continente.

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No fundo, bem no fundo do coração, cada brasileiro transporta a esperança ardente de que as nuvens espessas de momentos conturbados possam ser dissipadas. Poderosa egrégora energética, nascida dos corações fervorosos de brasileiros e brasileiras de boa vontade, haverá de inundar de luminosidade intensa os horizontes, sinalizando a invasão do futuro. O Brasil é que nem o mar. Não se pode descrever o mar utilizando palavras referentes aos enjoos das travessias de curta duração.

Estas palavras e estes anseios remetem-me à lembrança de uma magnífica figura. Um cidadão que marcou, como nenhum outro, na vida pública contemporânea, a história deste País. Membro de maior projeção nos quadros de associados desta nossa confraria acadêmica. Está claro que estou falando do acadêmico Juscelino Kubitschek de Oliveira. O prédio que nos acolhe pertenceu-lhe. Seu ingresso neste sodalício ocorreu em circunstâncias singulares, cabendo realçar o desassombro cívico do então presidente e fundador da Amulmig, Alfredo Marques Vianna de Góes. Porta-vozes dos donatários do poder naquela fase da ditadura fizeram chegar à Amulmig seu veto formal à presença de JK. A reação de Alfredo enalteceu nossos foros de cidadania. Ignorou a ameaça, encarou os riscos e empossou o carismático Nonô de Diamantina.

Recordar a saga de JK, mencionar sua passagem por esta Academia, é um ato que serve para exaltar o espírito humano (…). Relembrar o Brasil (…) dos tempos de JK, de sua aventura vital extraordinária, é algo de importância colossal, numa hora em que o cenário nacional, o cenário mundial, revelam-se, ambos os dois, escassos de lideranças cintilantes, empobrecidos de ideias e de projetos capazes de reconectarem o mundo com sua humanidade.

Bastaria Brasília para imortalizá-lo. Brasília representou o mais arrojado feito arquitetônico, com conotações políticas e administrativas, da história mundial na época da implantação.
Mas a magnífica obra de Juscelino foi muito além. Suas utopias contemplaram insuspeitadas latitudes na geografia demarcada pela atuação convencional de governo. Impulsionado por fervor dir-se-á místico e muita ousadia criadora, JK foi um redescobridor do Brasil. “Alegre como uma janela aberta”, apoderado da paixão “de servir e de ser útil”, exprimindo virtudes e defeitos de sua gente, como anotou meu saudoso padrinho de casamento Paulo Pinheiro Chagas, excepcional tribuno e escritor, num magistral ensaio (…). Ele, Juscelino, encarnou, como nenhum outro personagem de grande relevo na cena política (…), o verdadeiro sentimento nacional. “De todos nós, é o nome dele que vai durar mil anos”. A frase pertence a Afonso Arinos. Outros adversários, em retratação histórica (…), viram-se obrigados, nalgum momento, a reconhecer seus méritos de estadista.

Combatido implacavelmente por minoria raivosa, escorada nas ações de uma mídia (…) predominantemente hostil, alvejado pesadamente na dignidade pessoal, cassado, preso, banido da pátria a que soube servir com incomum denodo, destemor cívico e espírito democrático, o Nonô de Diamantina legou aos compatriotas um patrimônio imensurável de realizações e ideias fecundas.

Sua vida e obra asseguram-nos uma fonte inesgotável de inspiração nas lutas empreendidas pela sociedade na tentativa de conquistar o futuro e galgar patamares mais elevados em matéria de bem-estar social e econômico para todos nós.

Considero tempestivo citar Juscelino pelo fato de ele ter sido alguém que soube encarnar admiravelmente o sentimento nacional; alguém que acreditou arrebatadoramente na vocação de grandeza deste País; projetou de forma exuberante, sem equivalência entre seus pares, um estilo de liderança do qual nos achamos terrivelmente carentes nesta hora de decepções e aturdimentos. (…) Nosso confrade da Amulmig é símbolo de um Brasil autenticamente brasileiro (…).

As utopias são parte indissociável da peregrinação do ser humano pela pátria terrena. “Sonho, logo existo”, comentou alguém, algum dia, em algum lugar.
Desajeitado propagador de ideias que costumam roçar as fimbrias da quimera, não abdico, jeito maneira, apesar de tudo quanto possa rolar de adverso por aí, de minhas crenças humanísticas e espirituais. É o meu jeito de ser, na tentativa de compreender e propalar o sentido da vida.”

* Jornalista ([email protected])

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