Opinião

O alto preço da instabilidade política e econômica

O alto preço da instabilidade política e econômica
De acordo com o sindicato, a paralisação será feita entre 10h e 12h, mas a prestação de serviços considerados essenciais será mantida | Crédito: Beto Nociti/Banco Central

 Há algum tempo o Brasil tem passado por uma série de eventos que contribuem para o ambiente de instabilidade econômica. A crise sanitária, causada pelo novo coronavírus, fez com que o cenário se agravasse ainda mais e, apesar de já estarmos em um ritmo satisfatório de vacinação – e já termos um vislumbre de uma retomada – há ainda um longo caminho para que o país consiga se recuperar.

A crise hídrica, a inflação, a alta nos preços dos combustíveis e o enfraquecimento do Produto Interno Bruto (PIB) – dados do IBGE indicam um recuo de 0,1% no segundo trimestre do ano –, estão fazendo com que o brasileiro sinta, no bolso, os impactos de uma economia fragilizada.

A baixa nos níveis dos reservatórios não poderia se apresentar em um momento mais inapropriado. A energia elétrica é um insumo muito importante para a produção industrial e um gasto que as famílias têm dentro de seu orçamento. A elevação do custo da energia elétrica já repercutiu nos índices de preços e, com isso, as indústrias terão que embutir a alta do preço aumentando o valor do produto ou reduzir seu volume de produção. 

Ao olharmos para o cenário geral, todos os problemas que estão sendo enfrentados se tornam uma reação em cadeia, onde um acaba impactando o outro. A crise hídrica, por exemplo, potencializa a inflação. Com isso, o Banco Central reage elevando a taxa Selic, que tem o papel de conter a escalada inflacionária, mas que também contrai a economia.

A alta nos preços dos combustíveis também tem chamado a atenção e impactado no orçamento da população. Um levantamento do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV) mostra que os combustíveis, a energia elétrica e a carne estão entre os itens que mais impactaram na inflação oficial do país, que alcançou o índice de 9,68% no acumulado em 12 meses até agosto. Ainda, de acordo com o estudo, se os preços estivessem estáveis, o IPCA estaria abaixo do indicador de 5% e de acordo com a meta fixada pelo governo para 2021, considerando a margem de tolerância.

Com todos esses eventos em um momento já bastante fragilizado, o questionamento que sempre paira no ar é: o que o futuro reserva para o Brasil nos próximos meses e em 2022? Recentemente, o governo elevou, mais uma vez, a projeção para a inflação deste ano e a projeção é de que o IPCA fique em 7,90% (a previsão anterior era de 5,90%); já o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), base para o reajuste do salário mínimo, pode fechar em 8,40%, de acordo com o Ministério da Economia.

O dilema se resume na palavra que reflete as previsões de mercado para 2022: estagflação. Não só as projeções para a inflação capturadas pelo relatório Focus do Banco Central aumentam semanalmente, como também as projeções para o PIB do ano que vem estão sendo revistas para baixo sistematicamente. Como lidar com este cenário talvez seja a questão fundamental com a qual a autoridade monetária tenha que se debruçar. O aperto monetário (elevação da Selic) deverá ser forte o suficiente para conter a alta persistente dos preços, para tanto, o nível da taxa de juros provavelmente subirá acima do que se estima ser um patamar neutro, contraindo a economia. Tal aperto impactará investimento e consumo negativamente, o que dificultará a retomada econômica, sancionando o círculo vicioso. Sem falar nos solavancos na taxa de câmbio por conta da incerteza fiscal e ruídos políticos.

A questão está longe se de ser trivial, sobretudo em ano de eleição. Tudo indica que a travessia de 2022 será dura. Esperemos que possamos superar a crise sanitária em definitivo e, em um ambiente mais tranquilo, a sociedade possa discutir os caminhos para a retomada sustentável da economia, e que ela seja inclusiva e beneficie a todos.

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