O amor pela cultura

ROGÉRIO FARIA TAVARES*
O amor pela cultura não admite meio termo ou evasivas. Mais que um sentimento, ele é uma decisão. E uma decisão essencial, vinculada ao sentido atribuído à própria existência. Quem ama a cultura, pois, não a situa somente no plano do entretenimento. Faz mais: compreende em que território ela se estabelece. Conhece a sua força. E sela, finalmente, o compromisso em honrá-la como ela requer.
Pois a cultura não é apenas um conjunto de representações artísticas da realidade. Ela é o solo a partir do qual os povos erguem as suas identidades, ordenam seus modos de ser e de viver, concebem suas visões de mundo e seus projetos de vida.
Cultura, portanto, não é favor, não é supérfluo, não é despesa, não é matéria secundária. É o solo fértil em que lançamos as sementes dos nossos sonhos.
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Se o poder público se ausenta do investimento em Cultura, é porque certamente os seus dirigentes ainda não compreenderam o impacto que ela exerce sobre a educação, a economia e o desenvolvimento social.
Se há empresas que ainda não descobriram o imenso potencial da cultura, é hora de fazê-las enxergar os imensos benefícios materiais e imateriais de que desfrutarão a partir dos aportes realizados.
Cultura é direito previsto na Constituição Federal. É fator de progresso e de inclusão. Nas sociedades contemporâneas, mobiliza extensas cadeias produtivas, gera emprego, renda, e, sobretudo, eleva os índices de felicidade e de alegria das populações que dela podem usufruir. A vida de quem produz e de quem consome cultura e arte tem mais cor e mais sabor, é mais intensa e, ao mesmo tempo, mais leve.
Para que vicejem, a cultura e a arte gostam dos terrenos da democracia verdadeira, da tolerância e da diversidade – sem ódio, sem preconceito e sem discriminação de qualquer natureza, seja ela de classe social ou etnia, seja ela de crença espiritual ou religiosa.
Se não encontram o ambiente mais apropriado; se, pelo contrário, se veem às voltas com o predomínio dos ignorantes, dos medíocres, dos truculentos e dos toscos, cabe à cultura e à arte não se acovardarem, exercendo o papel de resistência que, ao longo dos tempos, sempre desempenharam. Porque quem faz Cultura e Arte é, acima de tudo, corajoso, valente. Rema, muitas vezes, contra a maré, enfrenta desafios terríveis, de toda ordem, e precisa seguir em frente.
É preciso, pois, reconhecer e homenagear, sempre, o trabalho dos pintores, dos escultores, dos fotógrafos, dos artistas performáticos, dos músicos, dos bailarinos, dos chefes de cozinha, e, como é esperado de quem atua em uma academia de letras, dos poetas e dos prosadores. Sem esquecer daqueles que viabilizam a publicação e a repercussão de seu trabalho: agentes literários, revisores, editores, livreiros, professores, críticos, jornalistas e divulgadores culturais, estejam eles na universidade ou na imprensa, estejam eles na internet ou nas redes sociais.
Todos eles são responsáveis por construir um país melhor, mais bonito, mais interessante, mais inteligente, onde vale a pena não só viver, mas também criar as novas gerações.
*Jornalista e presidente da Academia Mineira de Letras
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