Opinião

O caminho das pedras para a sustentabilidade empresarial

O caminho das pedras para a sustentabilidade empresarial

Os conceitos de responsabilidade social e de sustentabilidade empresarial partem da premissa de que entidades, públicas ou privadas, têm compromissos com a sociedade que vão além do cumprimento de suas obrigações legais”. Assim, a B3 – Bolsa de Valores do Brasil – inicia o guia Sustentabilidade e Gestão ASG nas Empresas (Ambiental, Social e Governança ou ESG, em inglês), lançado em setembro. Mas antes de entrar propriamente no O QUE fazer, vou começar pelo POR QUE, outro “W” da ferramenta de gestão 5W2H (em português: o que, por que, quem, quando, onde, como e quanto), pois sem significado, as letras não viram contexto.

Por que, então, a iniciativa da B3? Porque além do compromisso com a sociedade e o meio ambiente, as empresas podem adicionar valor de longo prazo aos seus stakeholders, sendo um deles, os acionistas. Além de mitigar riscos, a sustentabilidade traz oportunidades, como o acesso a mercados, lançamento de novos produtos, redução de custos com a otimização do uso de recursos naturais, acesso a linhas de crédito específicas, desenvolvimento do capital humano, melhoria da reputação e imagem, etc. E “QUANTO custa isso tudo?” Vai depender do investimento, mas como nos lembra Paul Polman, ex-CEO da Unilever, “o preço de não fazer nada é maior do que o custo de agir”. A inação já está cobrando seu preço, e é alto.

Crise ambiental também é crise econômica e social. Como exemplo, o aquecimento global altera o regime de chuvas que provoca quebras de safras que elevam os preços dos alimentos que geram inflação e que, por fim, aumentam as desigualdades. Não há empresa que prospere em terra arrasada, ou melhor, até há as que “vendem os lenços”, mas são poucas. Melhor trabalharmos para a redução das causas do sofrimento. Mas embora pareça óbvio que o homo economicus não irá avançar sem cuidar do ser humano que é e do ambiente no qual está inserido, o “curto-prazismo” parece embaçar a visão. Não que o curto prazo não seja importante. Se não se sobrevive hoje, não se prospera amanhã. Não se trata de escolher um ou outro, mas integrar um e outro.

Então QUANDO e por ONDE começar? Aqui e agora, no exato lugar onde você está. Tudo começa com a consciência individual. No ambiente organizacional, trabalhar o tema sem uma liderança consciente e pessoas conectadas, focando apenas no atingimento de metas, é tentar voar com uma asa só. Sem valores humanos, o almejado desempenho mais se parece com um voo de galinha do que de águia.

E para QUEM é a sustentabilidade empresarial? Para todas as 19 milhões de empresas registradas no Brasil e não apenas para as 455 listadas na B3. Micros, pequenas e médias empresas podem iniciar uma onda gigante. As menores são mais ágeis, mais empreendedoras, menos hierárquicas e, se ainda conseguirem o apoio do mercado financeiro, podem responder mais rápido às demandas da sociedade. Podem também ocupar um espaço diferenciado nas cadeias das grandes empresas, pois sustentabilidade será, cada vez mais, fator de competitividade. Na outra ponta, as grandes, já com uma agenda ESG em curso, são indutoras de transformação ao cascatearem suas metas. Em resposta, as menores começam a se mexer e a movimentar também seu ecossistema de fornecedores, parceiros, clientes… É a interdependência entre stakeholders em ação. No entanto, como isso não acontece da noite para o dia, tem-se a (falsa) impressão de que o tema é para as grandes, apesar das forças que regem a competitividade já estarem se reordenando.

Voltemos agora às 14 recomendações da B3 sobre O QUE fazer, que se aplicam a todas as empresas, independente do setor ou tamanho. São elas:

1) Engaje a alta liderança

2) Estabeleça a governança

3) Elabore uma política de sustentabilidade

4) Engaje os stakeholders

5) Entenda o contexto da sua organização

6) Estabeleça suas prioridades e a estratégia de sustentabilidade

7) Defina os indicadores e métricas relacionados aos temas prioritários

8) Estabeleça metas

9) Revise suas políticas e processos organizacionais

10) Gerencie sua cadeia de valor

11) Adote uma agenda de Investimento Social Privado

12) Dissemine a nova cultura na empresa

13) Assuma compromissos públicos

14) Relate seus resultados e desafios

Mas COMO de fato começar? Sem dúvida, pelo primeiro item. Sem o envolvimento direto da alta liderança, seja do CEO ou do empreendedor, a pauta não anda. Depois sugiro o quinto item, buscando entender o contexto e a maturidade da organização. A autoavaliação de práticas, como a que o Instituto Capitalismo Consciente Brasil acabou de lançar, é uma boa forma de aumentar a compreensão e preparar o terreno para que os outros 12 pontos avancem. O importante é colocar o pé na jornada, acelerar o passo e trazer os envolvidos. Como escutei de Sônia Consiglio, especialista em sustentabilidade, “ou a gente vai de turma ou não chega”.

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