Opinião

O começo do começo da ALTM

O começo do começo da ALTM
Crédito: Divulgação

Cesar Vanucci*

“Contista, jornalista, conferencista, crítico literário, Edson Gonçalves Prata é um autêntico homem de letras. ”(José Mendonça, primeiro presidente da ALTM)

No dia 15 de novembro a Academia de Letras do Triângulo Mineiro completou 58 anos. Este desajeitado escriba era o mais moço entre os 40 da composição acadêmica inicial. Hoje, decano, é o remanescente do grupo. Reproduzo abaixo história contada há anos sobre como tudo começou.

Envaidece-me poder relatar como se deu a semeadura de nossa hoje frondosa Academia de Letras do Triângulo Mineiro. Fixo-me, como protagonista e testemunha ocular, no comecinho do começo. Evoco, logo de cara, o nome do nosso saudoso confrade Edson Gonçalves Prata, principal artífice da história da instituição nessa fase prefacial a que me reporto.

Naquele tempo, o diário “Correio Católico” (12 mil assinantes) circulava aos sábados com um suplemento literário em formato tabloide. Eu era o editor do jornal. Entre os ilustres colaboradores do suplemento figurava o Edson, advogado conceituado, funcionário do Banco do Brasil, estudioso da obra de Machado de Assis. Seus artigos sobre a obra do autor de Dom Casmurro eram apreciadíssimos pelos leitores. Muita gente os colecionava. A propósito, o caderno literário nº 2, fevereiro de 1964, lançado pela Academia, enfeixa alguns desses artigos.

Numa das visitas frequentes que fazia ao jornal, Edson participou-me, solicitando colaboração e sugestões, que estava a se ocupar, já algum tempo, da coleta de dados e informações necessários para a elaboração da proposta de constituição de uma Academia literária com abrangência regional. Engajei-me, de pronto, na empreitada, prestando-lhe a ajuda solicitada. Várias reuniões preparatórias foram feitas, a partir desse papo, na redação do “Correio Católico” e no escritório de Edson, até que pudesse ganhar forma, em suas linhas gerais, o esboço da proposta.

Os primeiros contatos com os grandes personagens que viriam a compor o quadro dos sócios fundadores vieram a seguir. O notável pensador Juvenal Arduini foi a primeira pessoa consultada. Padre Antônio Thomaz Fialho, doutor Augusto Afonso Neto, Padre Tomaz de Aquino Prata foram, na sequência, os intelectuais de projeção consultados. Aderiram com franco entusiasmo à ideia. Por sugestão do Edson, infatigável no afã de tornar realidade palpitante seu ardente sonho, o nome de José Mendonça foi apontado como ideal, pelos incontáveis méritos de inteligência, cultura, liderança, para comandar o processo de estruturação da Academia. A sugestão foi levada ao conhecimento do inesquecível Arcebispo Alexandre Gonçalves Amaral. Ele considerou a escolha excelente, numa reunião ocorrida no Palácio São Luis. O grande romancista Mario Palmério também ofereceu seu decisivo apoio à iniciativa.

Para a residência de José Mendonça, onde também funcionava seu escritório de advocacia, foram então deslocadas as reuniões preparatórias com vistas ao lançamento oficial da Academia. O quadro de fundadores, o estatuto, a forma de atuação, a formação da primeira diretoria, os convites a escritores, poetas e jornalistas de Uberaba, de Uberlândia e de outros lugares para que viessem a integrar os quadros acadêmicos, tudo isso foi sendo laboriosamente delineado numa sucessão de proveitosos encontros até o momento decisivo da implantação solene da Academia.

Oportuno registrar, nesta sequência de lembranças, que o título da revista da ALTM, “Convergência”, foi por mim sugerido. O modelo dos cadernos literários da Academia foi também concebido nessas reuniões prefaciais.

Esse esforço preparatório germinou, floresceu, rendeu frutos compensadores. Marcou o ponto de partida do avultado trabalho, fecundo em iniciativas, que, ao longo de décadas, desencadeado na gestão de José Mendonça, desdobrou-se nas gestões de Augusto Afonso Neto, Edson Gonçalves Prata, Guido Bilharinho, Maurílio Cunha Campos de Moraes e Castro, Jacy de Assis, José Soares Bilharinho, Mário Salvador, Terezinha Hueb Menezes, José Humberto Henriques, Jorge Nabut, Ilcea Sônia Maria de Andrade Borba Marquez e João Eurípedes Sabino. O resultado aí está: uma obra plenamente consolidada. Repositório precioso de saberes acumulados, de experiências riquíssimas. Instituição verdadeiramente representativa, como se preconizou bem lá atrás, da inteligência e da cultura da gente do Triângulo Mineiro. Uma obra, enfim, com positiva ressonância no cenário cultural mineiro e brasileiro.

*Jornalista ([email protected])

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