O dilema do financiamento empresarial

Davi Motta Maciel*
A sustentabilidade financeira de uma empresa é um ponto crucial para seu sucesso, e as decisões de financiamento podem ter impactos significativos em seu futuro. Segundo o levantamento do Sebrae, 17% dos empresários dizem não ter feito nenhum planejamento e 59% dizem ter feito para no máximo 6 meses. O levantamento mostrou também que a maior taxa de mortalidade das empresas é verificada no setor do comércio, onde 30,2% fecharam as portas em cinco anos.
Dessa forma, surge a necessidade de abordarmos os prós e contras de cada opção de financiamento, oferecendo uma visão holística e orientada ao contexto brasileiro, onde variáveis como a taxa Selic e o índice de endividamento das empresas têm relevância direta. Devemos explorar, assim, as estratégias de financiamento que empresas podem adotar para maximizar seu potencial de crescimento, preservando, ao mesmo tempo, sua estabilidade financeira.
Uma empresa tem várias opções à sua disposição para financiar suas atividades, e a escolha correta pode ser a diferença entre o sucesso e a falência. A estrutura financeira da empresa é crucial para definir qual o melhor caminho a seguir. Alguns dos veículos de financiamento da atividade econômica são: mercado de capitais, abertura de capital (oferta pública inicial), private equity, venture capital e sociedades de crédito, financiamento e investimento. Entretanto podemos resumir os métodos que geram mais dúvidas para os empresários da seguinte forma: autofinanciamento (recurso próprio) ou Financiamento externo (Empréstimo bancário).
O autofinanciamento, quando a empresa utiliza seus próprios recursos, proporciona maior autonomia, pois não se busca apoio externo. Por outro lado, o financiamento via equity, que envolve a emissão de ações, e o financiamento via dívida, por meio de títulos de dívida como debêntures e notas promissórias, também são métodos utilizados. Neste cenário, o mercado de capitais emerge como um complexo de instituições e instrumentos financeiros que possibilitam a captação de recursos pelas empresas.
O grande questionamento que as empresas enfrentam é se é mais adequado utilizar capital próprio ou recorrer a empréstimos bancários. O autofinanciamento, por exemplo, oferece estabilidade financeira, preserva a capacidade de endividamento e garante maior autonomia administrativa, embora possa limitar a taxa de rentabilidade e exigir o ônus de colocação, dependendo da modalidade.
A estrutura de capital das empresas brasileiras entre 1987 e 1996 foi apresentada pelapesquisa de Padrão de Financiamento das Empresas Privadas no Brasil realizada pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. De acordo com o levantamento, a estrutura média de capital das empresas brasileiras nesse período era composta por 63,9% de autofinanciamento, 29,6% de endividamento e 6,5% de ações.
A estratégia financeira de retenções e reinvestimento de resultados pode ser um caminho atraente. Por meio dessa abordagem, a empresa retém parte dos lucros, adicionando-os ao patrimônio líquido e potencialmente aumentando o valor das ações. O reinvestimento de resultados permite que a empresa utilize lucros para investir no próprio negócio, um passo que pode aumentar seu valor de mercado a longo prazo.
Contrariamente, o financiamento externo (empréstimo bancário) pode aumentar as taxas de rentabilidade do capital próprio e proporcionar maior disponibilidade de recursos. Contudo, acarreta riscos, como a possibilidade de controle externo, taxas remuneratórias elevadas e riscos de inadimplência.
De acordo com a Sondagem Especial Condições de Acesso ao Crédito 87 daCNI – Confederação Nacional da Indústria, publicada neste mês de junho de 2023, quase um quinto das empresas está acima ou muito acima do limitedesejável de endividamento, bem como 71% das empresas afirmam que as Taxas de juros estão muito elevadas. Uma vez que a taxa Selic está acima de dois dígitos desde fevereiro de 2022 e, atualmente, encontra-seem 13,75% ao ano. Isso impacta diretamente ocrédito, encarecendo-o e tornando-o mais restritoao tomador. Além disso, os bancos passam aser mais cautelosos nas concessões, criando umcenário de maior seletividade e exigência paraquem busca recursos financeiros.
Em entrevista, Roberto Campos Neto – Presidente do Banco Central do Brasil, para a CNN, afirma de maneira simplificada, que o governo é um grande devedor e por conta disso há uma concorrência entre o governo e os empresários pela disputa dos recursos para o financiamento, o que faz com que os juros fiquem mais altos.
Finalmente, é vital encontrar um equilíbrio entre a retenção de lucros e a distribuição de dividendos, atendendo às expectativas dos investidores e garantindo o crescimento sustentável do negócio. Assim, é crucial considerar todas as vantagens e desvantagens no presente e para o futuro do seu negócio antes de optar por uma estratégia de financiamento, seja ela por meio do capital próprio ou através de empréstimos.
* Economista e consultor de M&A
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