O Distrito Industrial de Rio Pomba – I
José Eloy dos Santos Cardoso*
Um distrito industrial só era edificado quando os municípios entravam com os terrenos. Isso quando a localização da área era favorável e a Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais (CDI-MG) tinha interesse de construí-lo por razões técnicas e econômicas. O único DI de Minas Gerais que não obedeceu essa condição foi Rio Pomba, porque conseguimos que o governo mineiro, através da CDI, comprasse também os terrenos por nós escolhidos como a melhor opção. É claro que a área em Betim em que a Fiat foi construída foi outro caso.
Era compromisso do Estado junto à Fiat SPA italiana entregar um terreno e os galpões construídos em condições de, imediatamente, serem utilizados. Rio Pomba, foi totalmente exceção. Antes de descrever, embora abreviadamente, como consegui quando era técnico da CDI, construir com meus conhecimentos políticos, técnicos e amizades, o distrito industrial daquele município da Zona da Mata mineira, vou fazer algumas considerações importantes.
Ao contrário do que acontecia, tanto a aquisição do terreno como as obras foram inteiramente realizados com os recursos do tesouro do Estado. O fato diferente deste caso é que, naquela época, o governo só transferia recursos para uma empresa de economia mista como a CDI sob a forma de participação no capital em obras a serem feitas em DIs ou outras obras de infraestrutura dos municípios como serviços de água, esgotos, pontes, acessos rodoviários, etc. Passar dinheiro para cobrir despesas de custeio, nem pensar.
Antes de entrar no assunto da construção daquele DI, gostaria de descrever como era a cidade do Pomba (assim era conhecida antes de ser Rio Pomba) nos anos 40, ou seja, 80 anos atrás. Para isso, para facilitar minhas descrições, vou me lembrar daqueles anos na cidade onde residi e concluí lá meu curso primário e ginasial. Não vou consultar estatísticas e outras informações, a não ser aquilo que guardo na minha cabeça.
A economia municipal daqueles tempos e naqueles anos era bem simples, mas típica dos pequenos municípios mineiros. As ruas e avenidas não tinham calçamento, com exceção da praça principal na qual existe a igreja matriz de São Manoel. De acordo com minhas lembranças, a economia local era constituída do seguinte: farmácias (3), açougues (4), pequeno hospital (1), grupo escolar pertencente ao Estado (1), armazéns (3), ginásio municipal (1), escola normal (1), lojas de tecidos (2), armazéns (3), padarias (3), loja de móveis (1), fábrica de tecidos (1), pequena indústria de móveis artesanais (1), postos de combustíveis (2), indústria de manteiga (1), indústria de laticínios (2). A cidade era constituída de, aproximadamente, 12 mil habitantes, sendo que a metade residia em fazendas, sítios ou pequenas propriedades rurais.
No final dos anos 80, o município tinha como prefeito o engenheiro e comerciante Antônio Fernando Fernandes Caiafa, conhecido como “Português”. Eu era técnico da CDI-MG que teve no final dos anos 80 como presidente o Dr. Accácio Ferreira dos Santos Júnior. Ele era natural de Juiz de Fora, mas era dono de uma pequena fazenda localizada no município de Tabuleiro, que fica 15 quilômetros de Rio Pomba.
Ele foi fazer uma palestra em Ubá sobre distritos industriais e convocou todos os prefeitos da região para participar, inclusive o de Rio Pomba. Foi aí que começou a história do distrito industrial, que foi o único edificado pela CDI em município com menos de 20 mil habitantes, e o que foi diferente é que os recursos para a desapropriação do terreno e as obras vieram exclusivamente dos cofres do Estado. O milagre dessa história fica para uma próxima edição deste jornal.
*Economista, professor da PUC-Minas e jornalista ([email protected])
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