O dossiê, burocracia, juros e pandemias

Cesar Vanucci*
“Atentado à democracia”. (Ministra do STF Carmem Lúcia, definindo o relatório elaborado por fundamentalistas políticos sobre centenas de servidores)
- Dossiê talebanista. Teve disso, por mais incrível que possa parecer. No âmbito do Ministério da Justiça, agindo inescrupulosa e sorrateiramente, fundamentalistas de carteirinha “elaboraram no capricho” um dossiê contra 579 servidores públicos, pelos talebanistas identificados – ora, veja, pois! – como perigosíssimos “antifascistas”…
O Supremo, ao tomar conhecimento da questão, com base em denúncia formalizada pela “Rede Sustentabilidade”, resolveu interferir. A Ministra Carmem Lúcia cobrou explicações do titular da pasta. A demissão, logo após a cobrança, de elementos que compunham a “Secretaria de Operações Integradas” no Ministério, apontados como responsáveis pela chocante conduta, está sendo interpretada como consequência da indignação que o caso levantou nos círculos democráticos. Dizendo-se totalmente contrário a procedimentos desse gênero, por alvejarem sagrados preceitos democráticos, o Ministro André Mendonça, da Justiça, anunciou sindicância para averiguação completa do absurdo praticado por subordinados seus. Esperar agora pelo que virá adiante.
- Burocracia e juros. Entraves burocráticos sem perspectiva de solução à vista, somados aos altos juros praticados impunemente, ‘pra variar’, pelo mercado de crédito, vêm contribuindo implacavelmente para o fechamento de pequenos e médios negócios. São numerosas as lamúrias dos empresários quanto às frustrantes e exaustivas tentativas que promovem de acesso aos recursos que lhes estão sendo acenados pelo governo, nesta hora de crise ditada pela pandemia. Até bem recentemente, analistas asseveravam, escorados em estatísticas convincentes, que menos de 20 por cento do crédito destinado oficialmente para socorrer empresas tinha sido desembolsado. A teoria, toda hora é demonstrado, nem sempre funciona na prática. A privilegiada categoria dos operadores financeiros mantém-se, como é de seu feitio comportamental, imperturbável diante da ansiedade dos demandantes de crédito. Crédito esse, a levar em consideração o que apregoam porta-vozes do Ministério da Economia, bem mais acessível, no tamanho adequado a estes tormentosos instantes vividos pela economia. As reclamações dos empresários, sobretudo de mini, pequeno e médio portes, quanto às taxas escorchantes e as exigências adicionais por garantia real, dão conta, à saciedade, que as linhas de crédito montadas com incentivos não vêm beneficiando satisfatoriamente o setor produtivo. Longe disso, devido as razões apontadas. De acordo com a “ordem natural das coisas”, definida pelo inatingível e poderoso sistema bancário, a garantia de lucratividade se sobrepõe a quaisquer propósitos de cunho social.
- Quando? Dois conhecidos especialistas em oncologia, Paulo Hoff e Marina Tamm, ambos de São Paulo, fazem na “Folha de São Paulo” revelações inquietantes. Perguntam primeiro: “Preparados para a próxima pandemia?” Respondem de pronto: “Não há uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’.”
Em considerações alinhadas dentro desse perturbador enfoque, reportam-se ao fato de que o flagelo do coronavírus havia sido previsto, já em 2015, por Bill Gates e que, em março de 2019, cientistas chineses alertavam sobre a possibilidade dessa calamidade de proporções universais. Os dois articulistas manifestam férrea convicção, baseados em indicadores extraídos de eventos sócio-ambientais, que outras crises humanitárias, tão ou mais impactantes que a atual, poderão ser desencadeadas em futuro próximo. Apontando a necessidade de o mundo saber extrair dos acontecimentos vivenciados as devidas lições, recomendam planejamentos, desde agora, de estruturas competentes de serviços essenciais para os eventuais enfrentamentos dramáticos que se delineiam no horizonte. Os autores do trabalho sugerem uma série de medidas preventivas a serem logo adotadas de modo a assegurar o fortalecimento da capacidade de defesa da humanidade contra as ameaças preconizadas.
Vez do Leitor. Sobre os três artigos, aqui estampados, relativos à obra literária de Honório Armond, recebi esta mensagem do engenheiro agrônomo Benjamin Salles Duarte: “Simplesmente brilhante sua abordagem literária sobre Honório de Almeida Armond, meu professor de português na década de 1950, na Escola Agrotécnica de Barbacena. É dele: No fundo azul rubro e jade / Olha o velho uma criança / Chama-se o velho saudade / Chama-se a outra esperança. (Publicado no Diário de Minas em 3-11-1957)
*Jornalista ([email protected])t
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