O espião que sabia demais

Cesar Vanucci *
“Eu trabalhava para o governo. Agora trabalho para o povo.” (Edward Joseph Snowden)
Aludimos no comentário passado, falando do sistema de vigilância (melhor dizendo, de espionagem) universal instituído pelos Estados Unidos, a um livro palpitante, atinente ao tema, de recente lançamento. “Eterna Vigilância – Como montei e desvendei o maior sistema de espionagem do mundo” é uma publicação de autoria de Edward Joseph Snowden. Trata-se daquele engenheiro eletrônico que atuou nos altos escalões de organizações secretas estadunidenses, ditas de Inteligência. Num dado momento de sua jornada profissional, acossado por crise de consciência diante das tenebrosas maquinações de que se tornou partícipe, resolveu “chutar o balde”, como se diz no popular, e denunciar ao mundo a impactante realidade da “arapongagem eletrônica” praticada em escala inimaginável pelo governo de seu país.
Nas memórias agora trazidas a público, que atingiram rápido, como era de se esperar, recordes de vendagem e consultas, Snowden explica, tim-tim por tim-tim, como os órgãos de espionagem agem, devassando a intimidade de bilhões de seres humanos que utilizam, nos afazeres cotidianos, computadores e celulares. Sustenta que organizações como a CIA (Agência Central de Inteligência) e a NSA (Agência Nacional de Segurança), utilizando recursos de ponta sofisticadíssimos em matéria de computação eletrônica, dispõem de acesso privilegiado a toda sorte de imagens e falas propagadas em aparelhos criados pela parafernália eletrônica contemporânea, conduzindo e influenciando “negociações comerciais e golpes de Estado”.
Nas linhas introdutórias da obra, o autor, que fugiu dos Estados Unidos ao fazer a estrondosa denúncia e se exilou na Rússia, onde vive há seis anos, diz a que vem com a postura rebelde assumida. “Meu nome é Edward Joseph Snowden. Eu trabalhava para o governo, mas agora trabalho para o povo. Levei quase três décadas para reconhecer que havia diferença entre um e outro e quando reconheci acabei tendo problemas no trabalho. E o resultado disso foi que agora passo meu tempo tentando proteger o público da pessoa que eu era antes – um espião da Agência Central de Inteligência (CIA) e da Agência Nacional de Segurança (NSA). Apenas mais um jovem tecnólogo construindo o que eu tinha certeza que era um mundo melhor.”
Em sugestiva abordagem que faz, na “CartaCapital”, das memórias editadas do espião que se arrependeu dos atos ilícitos executados a mando dos governantes de seu país, o jornalista Pedro Alexandre Sanches recorda que, após vir à tona o perverso esquema de bisbilhotagem mundial montado pela Casa Branca, trazendo revelações estarrecedoras sobre decisões de caráter ultrassigilosas, Edward Joseph Snowden forneceu material referente às chocantes informações aos jornalistas Laura Poitras e Glenn Greenwald. Ambos se incumbiram de repassá-lo à imprensa internacional.
O jornalista Glenn Greenwald tornou-se mais recentemente, aqui no Brasil, protagonista do assim chamado “Vaza Jato”. Denunciou diálogos implicando personagens que se fizeram famosos nas investigações da Operação “Lava Jato”. Respeitáveis juristas expressaram ponto de vista de que tais diálogos são altamente comprometedores.
Chamamos a atenção dos leitores, em seguida, para uma das mais impressionantes revelações contidas no livro produzido pela “Amazon”. A NSA – afirma Snowden – criou um modelo de internet de concepção dir-se-a inverossímil, de certeira eficácia, armazenado ciosamente nas “célebres nuvens”. Funciona assim: uma ciclópica rede de informações, de durabilidade infinda, capaz de garantir que nenhum dado coletado seja extraviado, até mesmo na extremada hipótese de que a sede da agência fique reduzida a subnitrato de pó de mico numa eventual explosão nuclear…
Isso aí, gente boa! O “Grande Irmão”, da emblemática narrativa ficcional de Orwell, é apavorantemente real.
Vez do leitor. O escritor e acadêmico Daniel Antunes Junior comenta o artigo “Inconfidência Sessentão” (DC.1º.10): “O último encontro festivo do nosso Lions Inconfidência,sessentão, superando as expectativas, foi realmente expressivo e marcante. Tivemos a alegria de reunir toda a nossa família leonística, na residência acolhedora da presidente Yeda, e receber, condignamente, a visita oficial da Governadora Distrital Edite e comitiva. E você, Cesar, com a eloquência de sempre, dando publicidade ao evento, em nosso apreciado “Diário do Comércio”, de leitura obrigatória e imperdível,valorizou, ainda mais, o acontecimento”.
* Jornalista ([email protected])
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