Opinião

O futuro e o IPCA 15

O futuro e o IPCA 15
Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

E lá vamos nós com mais uma prévia de inflação.  No dia 24 de agosto, saiu o resultado do IPCA 15. É sempre bom lembrar que esse índice é a prévia do IPCA, que captura os dados entre os dias 16 do mês anterior e 15 do mês corrente. A metodologia é a mesma do IPCA, o que difere é a data de coleta, por isso ser um indicador tão bom e assertivo para prévia da inflação.

Agora que já conhecemos o indicador, podemos falar sobre. O resultado do IPCA 15 foi negativo em 0,73%, ou seja, uma deflação de 0,73% no período avaliado. Essa é a maior deflação já registrada desde o início da série, em 1991. Isso faz gerar a expectativa de que a inflação acumulada de 12 meses, em seu fechamento em agosto, volte a patamares de 1 dígito, na casa dos 9,5% acumulados.

Os fatores que puxaram essa queda foram, segundo o IBGE, o preço da gasolina e da energia elétrica. Contudo, setores como Alimentos e Bebidas, Educação, Saúde e Vestuário contribuíram para que a queda não fosse maior. Por mais que, no geral, a inflação esteja arrefecendo, ainda existem altas em setores que afetam diretamente a população com menos recursos, como alimentos, o que reduz a percepção de melhora do cenário como um todo. Mas em uma visão mais ampla, é observada uma melhora nas expectativas da conjuntura econômica nacional.

Por enquanto, são apenas boas expectativas. Uma sensação de que a política econômica praticada tem surtido efeito no cenário interno. E o mundo? Será que está caminhando na mesma direção? Será que veremos os países desenvolvidos apontando suas artilharias para combater a, quase inevitável, inflação que está cada vez clara no mercado? Será que os EUA vão marcar pé em uma política mais contracionista? Será que a Europa vai conseguir sobreviver a um inverno de inflação elevada, custos de gás e energia nos patamares mais elevados das suas séries históricas?

Há quem diga que quem vai decidir o futuro da Europa é a Rússia, com as possibilidades de abrir ou fechar suas “torneiras” de gás, petróleo e outras commodities. Também há quem acredite que o cenário da Europa já está desenhado, pois a inflação na França em julho estava em pouco mais de 5%; a alemã está no maior patamar dos últimos 50 anos, na casa dos 8%; e, no Reino Unido, bate seu pico dos últimos 40 anos, na casa dos 9%, com expectativas de piorar com o tempo.

Para os EUA, muito vai depender de Jackson Hole. O discurso de Jerome Powell vai apontar as interpretações que o mercado poderá ter sobre a política econômica americana. É claro que estou escrevendo essa análise antes do dia 26 de agosto, assim o que cabe é, como os mercados, ficar em acumulação, aguardando ansioso o que o Fed tem a dizer sobre suas taxas de juros, crescer mais 0,75%, estabilizar… Hoje, o mundo ocidental está esperando essa visão para novas previsões. Mas dois pontos são claros: a inflação americana em julho foi de 8,5%, já com uma sensação de desaceleração; e os juros altos nos EUA estão sufocando o mercado imobiliário, fazendo os estoques ficarem significativamente elevados.

Como já diz o ditado: “O futuro a Deus pertence”. Para nós, mortais, cabe especular. Em relação aos dados, maior atenção com a Europa e com o discurso do Powell. No Brasil, parece que fizemos o dever de casa em momento oportuno.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas