Opinião

O imbróglio da Americanas S/A

O imbróglio da Americanas S/A
Crédito: Ueslei Marcelino/Reuters

*Por Carlos Perktold

Imagine o leitor um bloco de cédulas de cem reais em total de dez mil. Agora pense nas várias malas cheias de dinheiro, apreendidas pelo Polícia Federal na Bahia, pertencentes ao ex-deputado Geddel Vieira Lima, com a soma de 51 milhões. Agora imagine 500 milhões, dez vezes a quantidade de dinheiro em malas que o leitor viu pela televisão. Imagine agora o dobro disso: um bilhão. Multiplique isso por 43 e você terá um número astronômico seguidos de nove algarismos zero. Até impresso fica difícil não ver. Observe: 43.000.000.000,00.

Pois é esse número imenso que deixou de ser contabilizado, observado, descoberto, apontado, denunciado pela PWC e pela diretoria durante anos nos balanços da Americanas. Note que isso não foi de uma única vez por que não havia movimento contábil pra isso. Este rombo foi feito ao longo de 10 ou 15 anos sem que ninguém, absolutamente ninguém entre tantos diretores, auditores, banqueiros e bancários, analistas de balanço, contadores e auxiliares de contabilidade sequer denunciasse ou desconfiasse de que havia mutreta grossa nos relatórios nos últimos anos da empresa. Mureta aqui é sinônimo de fraude, roubo ou o que o leitor quiser chamar de algo desonesto.

Em janeiro chamaram um CEO de fama nacional, ex-banqueiro, levantador de empresas com dificuldade para chefiar a companhia na esperança de que ele resolvesse o caso desse valor. Bem, ele não é Deus e nem é diretor da Casa da Moeda para emitir bilhões capazes de cobrir um rombo astronômico e que estava escondido entre demonstrativos fajutos avalizados e aprovados pela PWC e pela diretoria e seus maiores acionistas.

É impossível, absolutamente impossível, que a diretoria e os auditores desconhecessem isso ao longo dos anos e deixaram acumular cada vez mais e, pior, nada fizeram, além de convocar o novo CEO. Imaginaram que este descobriria, mas ficaria calado. Mas, ele não quer manchar sua biografia e em dez dias de trabalho ele literalmente des-cobriu (retirou a cobertura de) o que ninguém viu durante anos. Aí ele botou a boca no trombone, denunciando o que chamou de “inconsistências contábeis”. Muito engraçado a expressão para quem não investiu na empresa e trágico para os pequenos acionistas que acreditaram em tudo publicado em balanços auditados.

O preço das ações de R$ 12,70 no início de janeiro, despencaram hoje para R$ 0,82, uma diferença astronômica impossível de explicar racionalmente e com clareza. Tudo neste imbróglio é astronômico, até a fortuna dos controladores.  Onde estavam os auditores durante esses anos? Onde estavam os contadores da empresa? Onde estavam os funcionários graduados que nada disseram?

Alguém levou vantagem nesta mutreta, recebendo bônus de operações fajutas e salários dignos do espaço sideral e, por isso, ficou calado. As gestões passadas consistiam em: viva eu e minha direção, meu egoísmo, meu narcisismo, o que embolso e azar dos pequenos acionistas, ingênuos investidores, vítimas da competência de interesseiros nesta terra na qual ninguém será responsabilizado e nem pagará por isso.

 A empresa não falirá. Mais algumas semanas e alguma instituição financeira pública e poderosa entra em cena: torna público o prejuízo de muitos e privatiza o lucro de poucos. 

*Advogado

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