O juro negativo e a renda fixa
Fabien Tournier*
Após figurar entre os países com os maiores juros reais do mundo na última década, o Brasil passou a viver uma transformação desde o ano passado e entrou recentemente para o clube das nações com juros negativos. Isso tem preocupado os investidores de renda fixa, com rendimento vinculado à taxa Selic.
Mais comum em nações desenvolvidas, como os da Europa e os Estados Unidos, os juros negativos tiveram mais destaque após a crise internacional de 2008, quando esses países precisaram reduzir suas taxas para estimular suas economias, em um ambiente de inflação muito baixa. Agora, com a Covid-19, os juros reais negativos passaram a ser a realidade de muitos países, que precisaram fazer ajustes para frear o efeito colateral dos estragos da pandemia.
No Brasil, a situação não está totalmente ligada à Covid-19, mas muito mais aos ajustes econômicos que têm sido feito para o País sair da crise econômica que viveu nos últimos anos. O fato é que a pandemia trouxe um efeito surpresa e a inflação começou a ficar um pouco acima do esperado, puxada pela alta do preço dos alimentos.
Com juros negativos, fruto da taxa Selic no menor índice da história (2% ao ano) e no possível aumento inflação (3,20% para 2020, segundo o último boletim Focus), os investidores de renda fixa estão preocupados.
Mas com a simples observação dos países europeus com juros negativos, região onde atuei por muitos anos, é possível verificar que a renda fixa nunca vai acabar e no Brasil ainda pode ser bem competitiva. Vale destacar que não dá para colocar todos os ovos na mesma cesta e não dá para investir apenas em renda variável. Verificamos isso neste ano com a pandemia e muita gente acabou perdendo dinheiro quando mais precisava dos investimentos.
Sempre é bom lembrar que há a necessidade de ter uma parte dos investimentos na reserva de emergência e, idealmente, em um produto de renda fixa com rentabilidade e liquidez diária, como um Certificado de Depósito Bancário (CDB) de uma instituição segura.
Mas a renda fixa pode ir muito além da reserva de emergência. Isso porque ainda há boas opções CDBs com vencimento no médio prazo no mercado, que podem trazer mais segurança e rentabilidade em um momento de instabilidade como o que ainda vivemos.
Uma alternativa é escolher CDBs com taxas prefixadas com prazos de dois e três anos, por exemplo, com taxas de 5,5% e 6,5% ao ano, respectivamente. Eles trazem a vantagem de ser possível saber qual será a rentabilidade anual e total do investimento, já que o índice de rendimento não está atrelado à taxa Selic. Esse tipo de produto de médio prazo é ideal para investidores que querem diversificar suas aplicações, mas desejam uma rentabilidade maior na renda fixa. E também para os que contam com um projeto de médio prazo e não podem ter o infortúnio de perder valor quando chegar a data.
Com isso, fica claro que esse CDB é adequado para qualquer tipo de investidor, tanto os que têm perfis conservadores quanto os mais sofisticados e que querem proteger seu patrimônio. Até mesmo os mais arrojados sabem que as economias ainda sofrerão sobressaltos, o que trará instabilidade no mercado de ações.
Em uma simulação, ao investir R$ 50 mil no CDB prefixado durante três anos (6,5% ao ano), o valor atingirá R$ 58.837,86, que significa uma rentabilidade três vezes superior à da poupança, que atingirá um saldo de R$ 52.123,65. Na mesma simulação, o investimento no Tesouro Selic atinge R$ 52.278,39. Portanto, o rendimento do CDB prefixado é muito superior às opções do mercado.
Lamentavelmente, ainda com toda essa diferença, a poupança ainda tem muito destaque quando se fala em renda fixa. Desde o início da pandemia, os brasileiros depositaram valores recordes na caderneta de poupança. É importante que todos saibam que o rendimento da poupança está inferior ao da inflação e que há CDBs que rendem muito mais.
Assim como nas economias desenvolvidas e que contam juros baixos, o Brasil, independente da taxa de juros, continuará tendo bons produtos na renda fixa. Esta é a hora de o brasileiro fazer boas escolhas e saber investir para cada tipo de projeto.
*Diretor administrativo-financeiro do Banco RCI Brasil, braço financeiro das montadoras Renault e Nissan
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