Opinião

O Leste europeu em plena guerra cibernética

O Leste europeu em plena guerra cibernética
Crédito: Adobe Stock

A conectividade e a acessibilidade oferecidas pelas conveniências da era da informação, como smartphones e internet, constantemente redefinem a guerra e suas condições materiais na produção de hostilidades. O rápido avanço nas tecnologias da informação e da comunicação (TIC) expandiu o conflito para além do mundo físico, fazendo dos espaços virtuais das redes um dos novos campos de batalha do século XXI. Tamanha mudança paradigmática dos meios de guerra recai sobre a crescente dependência civil e militar dos sistemas e redes de computadores, fato que possibilita assim uma abertura ao “quinto” domínio de guerra ao lado dos domínios tradicionalmente reconhecidos de terra, mar, ar e espaço exterior.

Sendo assim, cada vez mais atores beligerantes vêm adotando estratégias militares híbridas que combinem táticas de guerra convencional, irregular [e/ou] cibernética (cyberwarfare). O uso de recursos cibernéticos tem sido muito observado no conflito russo-ucraniano iniciado no presente ano.

A concepção russa compreende ataques cibernéticos como um elemento orgânico de uma abordagem de longa data para a guerra política e operações de informação (IO). A Rússia não é o único Estado que recorre a instrumentos de cyberwarfare contra o Ocidente e seus vizinhos no leste europeu. Começando com a Chechênia em 1999-2000 e por meio dos conflitos na Estônia, Geórgia, Lituânia e Ucrânia, Moscou tem empregado sistematicamente seus ataques virtuais.

O ano de 2007 marcou uma escalada significativa no processo de definição dos ataques cibernéticos russos. Entre abril e maio deste ano, ofensivas foram lançadas contra a Estônia em retaliação à decisão do país báltico de realocar uma estátua da era soviética do centro da capital, Tallin. No ano seguinte, quando a Rússia entrou em guerra com a Geórgia em agosto de 2008, as ofensivas terrestres de Moscou contra Tbilisi foram acompanhadas por grandes ataques cibernéticos que visavam os sites do governo e a infraestrutura da Internet do país.

Dois meses antes da guerra da Rússia com a Geórgia, a Lituânia também foi atingida por um ataque cibernético: cerca de 300 sites, incluindo os de instituições públicas bem como uma série de empresas privadas, encontraram-se sob ataque.

As intervenções da Rússia na Crimeia e na Ucrânia Oriental, a partir de 2014, seguiram os padrões dos esforços anteriores visando instituições e setores-chave incluindo mídia, finanças, transporte, militares, política e energia.

Na Ucrânia, investigações revelaram uma campanha cibernética russa conhecida como Operação Armagedom, que supostamente começou em meados de 2013. Os atacantes usaram e-mails de phishing com anexos que pareciam oficiais para atrair funcionários ucranianos e outros alvos de alto nível. Um malware, em seguida, infectou os computadores das vítimas e foi usado para identificar estratégias militares ucranianas a fim de avançar os objetivos de guerra russos.

O recurso à ciberataques ou proxies apoiados pela Rússia, coincidiu com o uso de suas forças de operações especiais na Crimeia antes da anexação da região em fevereiro de 2014, quando o principal site do governo ucraniano foi desconectado por cerca de 72 horas.

Desde que a invasão russa da Ucrânia começou em 2022, tais operações cibernéticas disruptivas vêm apoiando os objetivos estratégicos e táticos militares do Kremlin, corroborando à tática de guerra híbrida russa, cujos ataques cibernéticos parecem estar fortemente correlacionados às operações militares cinéticas alvejando serviços e instituições críticas às forças armadas e aos civis ucranianos. A exemplo dos ataques cibernéticos contra uma grande empresa de radiodifusão em 1º de março, no mesmo dia em que o exército russo anunciou sua intenção de destruir alvos de “desinformação” ucranianos e dirigiu um ataque de mísseis contra uma torre de TV em Kiev. Ainda é provável que os ataques reportados sejam apenas uma fração da atividade direcionada para a Ucrânia.


                    
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