Opinião

O livro do humanista Patrus

O livro do humanista Patrus
Crédito: Divulgação

“Uma dívida social muito alta”.  (Patrus Ananias)

Patrus Ananias é reconhecido como um político diferenciado, pelas convicções democráticas, sólida cultura humanística e postura ética. Um livro seu é um repositório de lições e experiências que tocam fundo a sensibilidade social comunitária e servem de alento aos caminhantes empenhados na construção de uma vida melhor.

Em “Reflexões sobre o Brasil”, livro recentemente lançado, o ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-ministro de Estado, parlamentar com dinâmica e criativa atuação no Congresso Nacional, emite esses sugestivos conceitos: “Vivemos uma crise ética que pode pôr em risco o projeto de humanidade, caso seja levada as últimas consequências. No Brasil, há um passivo histórico elevado nesse campo, advindo das dívidas sociais acumuladas e também da relação predatória com o meio ambiente e com nossas riquezas. O que aprofunda e evidencia essa crise encontra-se no caldo de cultura fragmentada, dispersa e sem referência que se propaga na sociedade contemporânea, sob o nome de pós-modernidade. O fato é que vivemos um momento tenso, marcado pelo individualismo exacerbado, com perigosas quebras de valores coletivos, comunitários e solidários…”.

Noutro ponto de suas lúcidas considerações, ele assinala também que: “…existe, no Brasil e no mundo, uma dívida social muito alta – nós deixamos, geração após geração, que a pobreza, a miséria e a exclusão social chegassem a esses níveis que estamos vendo. E considero que essa tragédia social aumentou nos últimos 30 anos com a hegemonia do chamado projeto modelo neoliberal, com uma prevalência forte do capital sobre as exigências superiores do direito à vida, da dignidade humana, e a prevalência do capital sobre o trabalho e os direitos sociais. O neoliberalismo deixa uma dívida ética, pois, além das injustiças, há também os valores relacionados ao individualismo, à competição levada as últimas consequências – o darwnismo social – bem como a prevalência do econômico sobre as questões políticas sociais e éticas, além da fragmentação desses valores. Tudo isso contribui para a situação que estamos vivendo, mas temos o desafio de enfrentar e resolver”.

Na prosa arguta do acadêmico e educador comprometido com interpretações humanísticas da aventura humana, a temática social é abordada dentro de enfoques que contemplam a soberania nacional, um projeto nacional de desenvolvimento e o sentimento nacional. Eis, como exemplo, o que Patrus diz sobre a educação: “A educação configura-se, a rigor, como uma política pública especial. Ela se faz presente em duas dimensões: é um direito fundamental da pessoa humana e um bem essencial ao desenvolvimento comunitário. Nenhum Estado realiza o seu projeto nacional de promover o bem comum do seu povo sem uma ampla base no conhecimento e no saber, onde a educação se articula com a história, a cultura, as artes, a pesquisa científica e tecnológica”.

Resumo da ópera, o livro de Patrus é para ser lido e meditado. Fala de anseios, esperança, clamores que povoam a alma das ruas.

*Em comentário recente, neste acolhedor espaço, falamos do flagelo da fome, uma nódoa da civilização de nossos tempos que tanto se ufana de feitos tecnológicos estrondosos de eficácia duvidosa na solução das grandes questões sociais. Ocorre-me, a propósito do assunto, recordar uma palavra muito elucidativa de Josué de Castro: “Não é somente agindo sobre o corpo dos flagelados, roendo-lhes as vísceras e abrindo chagas e buracos em sua pele, que a fome aniquila a vida do sertanejo, mas também atuando sobre sua estrutura mental, sobre sua conduta social. Nenhuma calamidade é capaz de desagregar tão profundamente e num sentido tão nocivo a personalidade humana como a fome quando alcança os limites da verdadeira inanição. Fustigados pela fome, fustigados pela imperiosa necessidade de se alimentar, os instintos primários exaltam-se e o homem, como qualquer outro animal esfomeado, apresenta uma conduta que pode parecer a mais desconcertante”.

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