O ópio do PT
“Hitler recebia dinheiro dos banqueiros e dos industriais, vários chefes militares viam nele o único homem capaz de devolver à Alemanha a sua grandeza, mas milhões de pessoas acreditaram no Führer por não acreditarem mais nas eleições, nos partidos e no parlamento” (Raymond Aron “O Ópio dos Intelectuais”, Três Estrelas, p. 25, 2016).
O leitor que desconhece Raymond Aron (1907-1983), deve lê-lo de imediato, em especial, seu livro citado acima. Há vários outros, e este foi escrito execrando a esquerda. Ao contrário do que Marx achava sobre a religião, julgando-a o ópio do povo, para Aron ópio era o marxismo. O precioso e atual volume é de 1955 e a frase acima, escrita sobre a Alemanha, se ajusta como uma luva cirúrgica na nossa consciência política de hoje, tão grande é a semelhança com aquela da Alemanha de 1933, quando Adolfo Hitler foi nomeado chancelar. As semelhanças estão na alta percentagem de desemprego, no desamparo do povo, no descrédito dos partidos e no desalento com as nossas próximas eleições. Sua coragem de expor a ilusão da esquerda foi avassaladora. Naqueles anos, pouquíssimos intelectuais ousariam ser de direita, tão grande era a crença em um mundo melhor sob o marxismo. Aron foi e é louvada exceção.
Por ocasião da publicação desse livro, Joseph Stalin, falecido em 1953, ainda não havia sido denunciado por Nikita Kruschev como horroroso genocida do seu próprio povo no Congresso do Partidão em 1956; o muro de Berlim só seria erguido em 1960; a guerra do Vietnã ainda não havia sido iniciada pelos americanos e aquela fria estava em pleno vapor. Em outras palavras, este Planeta Azul era outro sob todo ponto de vista e ninguém sequer imaginou as radicais mudanças ocorridas na economia, política e na tecnologia. Por tudo isso, além de pensador e filósofo, Aron hoje é um profeta.
O livro é mágico e não poderia ser mais atual neste país de Lula. Deveria ser (re)lido por professores universitários e seus alunos como matéria obrigatória, tão grande e demolidora são suas ideias sobre a esquerda. A mesma esquerda presente na Venezuela e Coreia do Norte.
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Aron foi contemporâneo e, durante longo tempo, amigo de Jean Paul Sartre (1903-1980), importante filósofo e escritor do século vinte, de minha geração e de quem agora ninguém mais fala. Jovens leitores e pessoas com 35/40 anos de idade hoje não o leu e nem sabe quem foi. Aron e Sartre apesar de amigos e, por causa de vicissitudes políticas, ficaram em campos opostos. O tempo, essa categoria implacável e dono da verdade, mostrou que Aron estava certo nas suas previsões econômicas e políticas e Sartre se surpreenderia com suas próprias ideias, se tivesse vivido até final de 1989 quando caiu o muro de Berlim. Se vivesse até hoje, honesto como era, reconheceria as profecias de Aron e faria revisão de boa parte de seus textos. Veria como as mudanças no mundo surpreenderam a todos. Hoje, quem ainda o lê, vê que faltou em Sartre a visão de Aron. Recomendação feita, o leitor do livro se surpreenderá como o Brasil é a cara da frase que abre este texto.
* Psicanalista, advogado e escritor
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