O pluralismo literário de Marilene Guzella
“A palavra é pura magia, aliás, a única magia” (Pierre Ronsard, poeta renascentista)
A plurivalência de Marilene Guzella no oficio das letras é um dos traços marcantes de sua apreciada obra. Esbanjando talento, ela pontua num itinerário de sedutor colorido humano, formas de expressão artísticas as mais variadas. Contista, poeta, cronista, contadora de histórias, pesquisadora, em todas estas modalidades de expressão é reconhecida como interprete categorizada de ideias e conceitos expendidos com sabedoria, graça e integridade intelectual. Ela sabe emprestar à palavra, como propunha Ronsard, sabor de magia. Em função de sua efervescente operosidade integra com brilhantismo inúmeras instituições acadêmicas, ostentando invejável acervo de prêmios conquistados em concursos literários disputados por nomes exponenciais na cultura brasileira.
A escritora, poeta, filósofa, acadêmica Maria Inês Chaves de Andrade alinha, nos dizeres abaixo, considerações, que com prazer subescrevo, sobre a obra, cheia de encantamento de Marilena Guzella. Ouçamos Maria Inês.
Marilene é nome próprio e representa a ideia de levar a cabo uma série de iniciativas, especialmente relacionadas com a liberdade e com a emancipação, sendo próprio de mulheres que têm por lema o bastarem-se a si mesmas. Pois, foi assim que essa menina Guzella foi batizada e se realizou sem tréguas, correndo mundo. Agora, “a garota-academia”, como brinca conosco ao falar de si, tantas sejam as de que é confreira, apresenta-nos “Do matriarcado ao patriarcado. Deusas-mães primitivas”, pela Editora 3i, confirmando a que veio e ora expõe-nos o que a expõe, esse seu livro que a tem como a maior de todas as suas obras. A maturidade oferece mesmo de nós a suculência do que somos, haja assim quem seja azedo, amargo, ácido, salgado e doce, quando Marilene dá de si a experimentar o quanto seja uma pessoa gostosa e ao paladar provar das palavras colhidas de sua cultura, a que lavra com o cuidado que só os anos sofisticam. O racismo estrutural já foi diagnosticado, mas de grave há uma misoginia estruturada que precisa ser enfrentada, definitiva e racionalmente. Pois, sob a lavratura da filha de médico que é, Marilene assume texto e contexto para que possamos ler, das linhas tortas onde Deus escreve certo – as que o tempo marcou em sua tez sobre pensamento -, da ignorância que mata o quanto matou. Marilene Guzella é mulher e uma que permite que em si reverberem todas as mulheres do mundo, alinhavadas num único tecido feminino bordado de significâncias – significantes e significados -, das tantas que fomos até aqui e somos, como seremos ainda. Buscou deusas em várias culturas e religiões para pontuar o papel da mulher nas diversas civilizações até que chegasse a Maria de Nazaré e dela, agredida como chegamos todas, por experiência ou sororidade, à Maria da Penha dando notícia do feminicídio como crime epidêmico em nosso país e, ao final, conclama-nos a enfrentar a violência, com toda a força que esta baixinha grande mulher ostenta: “Chegou a hora do Basta!”
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