Opinião

O sacerdote do desenvolvimento

O sacerdote do desenvolvimento
Crédito: Freepik

José Eloy dos Santos Cardoso*

É difícil descrever o que representou Silviano Cançado Azevedo na história do desenvolvimento econômico de Minas Gerais. Grande parte do que Minas conseguiu ser, economicamente falando, foi devido ao grande guru e mestre desenvolvimentista que foi desde que começou sua carreira no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG).

O livro que ele produziu, “De mãos Dadas, Reflexões sobre o Desenvolvimento de Minas” conta parte de sua história como participante ativo do desenvolvimento mineiro mas, deixa de fora todo o seu trabalho na presidência da Companhia de Distritos Industriais de Minas Gerais, justamente um dos chamados “tripés” do desenvolvimento mineiro.

No livro que publicou, ele descreve sua trajetória profissional, dedicando-se como só ele poderia fazer aos aspectos econômicos mineiros. Com seu peculiar modo de descrever as coisas ele percorreu, embora resumidamente, toda a história mineira desde o governador Olegário Maciel até Antonio Anastasia.

O livro teve o objetivo de homenagear os 50 anos de criação do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, onde ele praticamente iniciou sua carreira desenvolvimentista. Segundo Silviano, “foi meu pai, segurando minhas mãos, que me mostrou que as dificuldades são extraordinárias oportunidades para encontrar soluções que levam ao crescimento. Os desafios existem para ser vencidos e a vitória é a marca do triunfo”. E ele levou muito a sério todos os ensinamentos de seu pai, que também se chamava Silviano Cançado.

Juscelino Kubitschek, coerente com suas promessas de campanha, formalizou em sua primeira mensagem ao Congresso brasileiro seu compromisso com o desenvolvimento acelerado e com o planejamento. O Plano de Metas dele era a primeira providência tomada no País no sentido de fazer um levantamento de todos os pontos de estrangulamento da economia brasileira e enquadrá-los num esquema de soluções racionais, rigidamente delimitadas no tempo e expressas em cifras que refletiam os alvos a serem atingidos.

Quando o BDMG decidiu pelo presidente Hindemburgo Pereira Diniz e pelo chefe do Departamento de Estudos e Planejamento (DEP), Fernando Antônio Roquette Reis, publicar um diagnóstico da economia mineira, deve ter se inspirado nesse plano de metas de JK.

Conheci Silviano logo que ele, convidado pelo presidente do BDMG na época, Paulo Camilo, entrou como engenheiro para a equipe do banco e passou a chefiar o Departamento de Projetos (DP). No “Diagnóstico da Economia Mineira”, produzido pelo DEP e publicado no ano de 1968, foram descobertos diversos problemas e obstáculos ao desenvolvimento mineiro. Posteriormente, Silviano foi designado diretor e seguiu todas as recomendações diagnosticadas nessa importante publicação que podemos considerar o “marco” 1 do desenvolvimento mineiro.

Entretanto, o conheci melhor quando ele, contrariando até opiniões de colegas, decidiu assumir a presidência da Cia de Distritos Industriais de Minas Gerais – CDIMG, considerada um dos principais instrumentos criados para proporcionar a Minas Gerais altos graus de crescimento e desenvolvimento. Em 1974, ele recebeu um telefonema do secretário Paulo Valadares convidando-o para um encontro com o Francisco Noronha, na época secretário de Indústria e Comércio.

Noronha convidou naquela reunião o Silviano para ser o presidente da CDIMG com o beneplácito do governador Rondon Pacheco. Para alguns colegas, assumir a CDI era uma verdadeira “fria”, porque muito pouco ele poderia fazer naquele cargo. Ele tomou posse na presidência da CDIMG e fez dela, que era um simples limão, uma deliciosa limonada do desenvolvimento mineiro.

*Economista, professor titular da PUC-Minas e jornalista

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