Opinião

Oportunidades no bilionário mercado da cibersegurança

Oportunidades no bilionário mercado da cibersegurança
Crédito: Adobe Stock

Ameaças e crimes eletrônicos de todo tipo têm feito os investimentos globais em cibersegurança crescerem em ritmo consistente e crescente. Levantamento do canal Fortune Business Insights calcula que o setor movimentou US$ 139 bilhões em 2021, deverá “girar” US$ 156 bilhões em 2022 e atingirá US$ 376 bilhões em 2029. E o Brasil é um dos líderes mundiais quando o assunto são os gastos com proteção cibernética. As empresas do País direcionam, em média, 15% de seus orçamentos, à defesa eletrônica.

Não é para menos. Casos recentes e bastante conhecidos, como a derrubada dos sites da Renner e da CVC (ambos em 2021), e, em 2022, do Submarino/Americanas, assim como a invasão do portal do Ministério da Saúde – em todos os casos, por ações ligadas a hakers – dão uma dimensão do tamanho dos riscos envolvidos e da ameaça ao mundo dos negócios imposta por esse tipo de atividade. É preciso, portanto, manter o “olhar digital” sempre atento e vigilante.

Ademais, além de pensar nos inegáveis riscos, é possível, também, enxergar a “metade cheia” desse copo. O desenvolvimento de soluções que garantam a proteção contra invasões e ataques cibernéticos pode, sim, se tornar um grande negócio, gerador de renda, de empregos de qualidade e, igualmente importante, de inovação, atraindo para o País (e para estados que se disponham a apostar nesse segmento altamente tecnológico) investimentos e empresas de ponta em busca de parcerias e conhecimento.

Um grande exemplo nesse sentido é Israel. Com uma longa tradição no mercado de equipamentos de defesa militar, o País é, também, e sob qualquer aspecto que se analise, referência global no mercado de segurança eletrônica. Tome-se como exemplo o número de fornecedores de cibersegurança como proporção para cada milhão de habitantes, que chega a 25 em Israel, ante 4,77 nos Estados Unidos e 0,08 aqui no Brasil.

Quando se aprofunda esse olhar para o segmento das startups, os números não são menos vistosos: no ano passado as empresas locais foram responsáveis por nada menos que 40% de toda a captação global, via venture capital (VC), em ativos no setor, com US$ 8,8 bilhões, para um total captado de US$ 21,8 bilhões. Realizaram, ainda, 131 rodadas de captação de recursos e geraram 11 “ciber unicórnios”, ante cinco em 2021 (no jargão das startups, unicórnios são aquelas empresas que atingem US$ 1 bilhão em valor de mercado). O Brasil, considerando todos os setores, possui 17 unicórnios.

No estágio seguinte do ciclo de vida das empresas – a abertura de capital em Bolsa – as empresas de cibersegurança israelenses também fazem bonito: elas foram responsáveis por nada menos que 40% dos “ciber IPOs” realizados em 2021 nas bolsas americanas.

Todo esse sucesso nos leva a pelo menos duas conclusões: a primeira delas é de que, mesmo em momentos como o atual, em que os juros globais em alta tendem a dificultar a vida das fintechs e startups, segmentos nos quais predomina a inovação tendem a passar relativamente incólumes pelas águas mais turbulentas. Nesse sentido, a inovação é, com certeza, uma espécie de seguro contra os ciclos de vacas magras da economia.

A segunda conclusão também está relacionada à inovação: o sucesso de Israel tem a ver com uma abordagem do tema em diversas frentes. Uma pesquisa de 2019, do Fórum Econômico Mundial, classifica o país do Oriente Médio como “o mais inovador do mundo” e elenca uma série de fatores que levam a esse destaque. Alguns deles são os investimentos em P&D (Pesquisa & Desenvolvimento), disponibilidade de financiamento na forma de venture capital, cultura empreendedora, estabilidade econômica, predisposição das empresas em adotar ideias disruptivas, colaboração de partes interessadas e conquista de prêmios Nobel – tema no qual Israel é, também, uma referência mundial.

Conclusão: a bem-sucedida e consistente parceria entre governo, setor privado, academia e outros atores tem levado o país do Oriente Médio a se destacar no universo das startups e, particularmente no das startups ligadas à cibersegurança. Um exemplo que, sim, poderia ser adotado pelo Brasil e por suas unidades federativas.

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