Os desafios que persistem no campo
Existem nos cenários rurais de Minas Gerais e do Brasil, guardadas as devidas proporções dessa afirmativa, agricultores familiares e médios produtores rurais bem-sucedidos em seus negócios agropecuários. Contudo, em uma amostragem mais universalizada, as pesquisa e os fatos mostram outras realidades mensuráveis que são desafios que persistem no campo e sem subestimar os grandes empresários do agronegócio brasileiro.
Seria desnecessário relembrar numa série histórica que o passado, presente e futuro presumível formam um horizonte de tempo considerável, com seus avanços e retrocessos, consequentes às mudanças econômicas, climáticas, sociais, culturais, estruturais, políticas, tecnológicas, educacionais, logísticas e geopolíticas, entre outras, nesse complexo caminhar rumo ao futuro e acessando ao bem-estar social, entendido e definido como qualidade de vida para a sociedade nos cenários urbanos e rurais. A Ciência & Tecnologia reduz as desigualdades e integrada ao desenvolvimento nacional sustentável!
Assim posto, a pesquisa conduzida e recordando, memória do tempo, sobre a concentração da renda bruta rural, o excedente exportável e o consumo interno de alimentos conduzida pelos pesquisadores Eliseu Alves, Geraldo Souza e Renner Marra, todos da Embrapa, e tendo como base o Censo Agropecuário de 2006, apesar de ele comemorar 16 anos, é ainda muita rica em abordagens, análises e conclusões, pois o passado conhecido explicaria razoavelmente o presente na economia agropecuária e sinalizando também o futuro presumível para quem planta e cria em função dos movimentos pendulares dos mercados.
A renda bruta, segundo essa pesquisa, inclui a produção vendida, autoconsumo e a indústria caseira, e qualificou-se como estabelecimento aquele que declarou produção e ter usado a terra na produção. Considerando as classes de renda bruta em salários mínimos mensais, que à época era de R$ 300,00, os estabelecimentos de 0 a 10 salários somavam 3,90 milhões ou 88,64% do total de estabelecimentos (4,4 milhões), mas representavam apenas 13,35% da renda bruta total em 2006.
Além disso, os estabelecimentos de 10 a 200 salários mínimos mensais de renda abrangiam 472,70 mil; 10,74% do total e tiveram uma fatia da distribuição da renda bruta de 35,46%. Entretanto, os 27,30 mil estabelecimentos com renda bruta acima de 200 salários mínimos mensais (0,62%) ficaram com 51,19% da renda bruta do total dos estabelecimentos pesquisados, e obtiveram a média mensal de 861,91 salários mínimos de renda bruta.
Como o trabalho, a terra e tecnologia explicam o crescimento da produção e confrontando o Censo Agropecuário de 1996 com o de 2006, trabalho, 31,3% e 22,3%, respectivamente, terra, 18,1% e 9,6%, tecnologia, 50,6% e 68,1%. Quebras de paradigmas.
Segundo Alves, Souza e Marra, as imperfeições de mercado explicam em boa parte a pobreza no campo pelo fato de que a pequena produção vende o produto por preço bem menor que a grande (escala) e compra os insumos por preços maiores, não sendo possível adotar a nova tecnologia, em virtude de não ser lucrativa. O que revelaria o Censo Agropecuário de 2017 e o que mudou naqueles cenários pesquisados em 2006? A conferir!
Esses pesquisadores, sendo apenas uma síntese limitada para este artigo, ressaltam e enfatizam: “As políticas públicas que visam à modernização da agricultura como capaz de resolver o problema da pobreza rural vão fracassar se não forem removidas as imperfeições de mercado. Na região Sul, as imperfeições foram controladas, destacando-se as cooperativas, associações e lideranças de governo e da iniciativa privada particular, que não descuraram da luta por dar poder de mercado à pequena produção, e por isso lá, ela tem tido muito sucesso na modernização da sua agricultura. O mesmo tem ocorrido nos projetos de agricultura irrigada do Nordeste, e em outras regiões. Como região, o Sul é a que mais se destaca.”
Em Minas Gerais, entretanto, são 607,5 mil produtores rurais que se desdobram, apenas como um dos exemplos, para cuidar de suas culturas e criações, adotar as boas práticas indispensáveis à sustentabilidade dos recursos naturais, gestão para resultados, e produzindo alimentos de reconhecida qualidade e segurança, como os queijos mineiros, leite e derivados, cafés, azeites, vinhos, carnes, ovos, grãos, frutas e hortaliças indispensáveis ao abastecimento interno e às exportações do agronegócio mineiro, superavitárias, bem como ofertando produtos orgânicos e agroecológicos. Acesso à água e aos alimentos serão dois dos maiores desafios no viger deste século XXI
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