Os imbróglios em Brasília

Tilden Santiago *
Como membro do Diretório Nacional do PSB, fui duas vezes a Brasília em junho e conversei com o presidente Carlos Siqueira, líderes de vários partidos e outros políticos, corruptos e não corruptos, todos boas fontes de informação. Também com colegas jornalistas da ativa, bajuladores ou não dos Poderes da República. E analistas políticos de diferentes cores ideológicas!
Tirei dúvidas e tentei entender melhor a conjuntura econômica, política e social do Brasil e sua relação com o obscurantismo e o retrocesso que dominam a política do mundo contemporâneo.
Juro que não é fácil entender, mesmo com mais de 50 anos militando na política (12 em Brasília e 4 na diplomacia) , sobretudo discernir quem está por detrás da balbúrdia, das contradições e da confusão reinante entre os Poderes da República, entre as instituições que têm mais peso na máquina de governo, em detrimento do bem-estar da Nação, especialmente dos mais pobres e das classes médias, que compõem as bases da pirâmide social brasileira.
Difícil entender que os problemas mais agudos vividos pela população não sejam preocupações governamentais centrais e temas das políticas públicas de quem está no poder, ou pelo menos no governo: 14 milhões de desempregados, alta criminalidade agora até no interior, aumento crescente da diferença entre ricos e pobres, quanto à distribuição de renda, descrédito do empresariado com relação a investimentos futuros, juros altos, excesso de impostos, o crime organizado operando dentro e fora dos presídios, a continuidade da violência na cidade e no campo, da corrupção, do toma-lá-dá-cá, do Sistema Político da Velha Política (saudades da campanha eleitoral de 2018 e suas promessas), as relações amigáveis duvidosas com Trump, Hungria, Turquia, Israel, Filipinas e milícias do Brasil, o tratamento dado à Educação, tendo um trapalhão como ministro e no Meio Ambiente um incompetente que reconhece a urgência de salvar a natureza, as águas, as florestas e vida não só do homem na face do planeta.
Em vez destes temas problemáticos, enfia-se a cabeça na areia, para falar de problemas, que os baixos escalões do governo podem muito bem corrigir: porte de armas, questões infantis sobre trânsito (cadeirinha de bebê), comércio de nióbio para brincos “só para meninas”, etc.
Alguns judeus se perguntavam, acerca de Yeshua: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” Parodiando: Pode vir alguma coisa boa do Baixo Clero, das milícias, da porção sectária e pouco evangélica de alguns irmãos pentecostais?
Aliás, tentam iludir a população, sobretudo os mais carentes, colocando o foco unicamente numa questionável (deformação) reforma da Previdência, feita de cima para baixo e anunciada como a ponte para uma economia salvadora, uma panaceia messiânica, como garantia do Brasil-Paraíso, que eles prometem como um reino dos céus, graças ao presidente e a Jesus. Mesmo Yeshua de Nazaré nos pregou uma peça: “Nos prometeu um Reino dos Céus e permitiu uma multiplicidade de igrejas, algumas bem longe do Mestre que se identificou com os pobres. O que vemos no Papa Francisco, em Martin Luther King, em Teresa de Calcutá e João XXIII.
Quem controla o Poder nesse misterioso e curioso Brasil, após as eleições de 2018? Difícil atirar na mosca! Mas o certo é que nossa República nasceu sobre forte influência militar e maçônica: Deodoro, Floriano, Hermes da Fonseca, Benjamim Constant e outros. E depois, desde a Velha República, a hegemonia não se consolidava sem o aval do Exército, uma das duas instituições com mais raízes no povo e na história do Brasil, junto com a Igreja Romana.
Mesmo Lula passou nesse teste, muito graças a seu vice José Alencar e à carta aos brasileiros (na verdade aos banqueiros, a eleitos) se apresentando como Lulinha Paz e Amor e não como o líder sindicalista raivoso e combativo das greves e flexibilizando o PT. Além dos militares e maçons teve o aval da Igreja da Teologia da Libertação e da CEBs.
*Jornalista, embaixador e anglicano
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