Os números da reforma da Previdência

Murilo Aith*
Os segredos da reforma da Previdência ainda não estão totalmente desvendados. Os números e gráficos apresentados pelo Ministério da Economia no último dia 25, ainda não são suficientes para explicar as duras propostas englobadas na reforma da Previdência. A economia prevista pelo governo federal com a reforma pode chegar a R$ 1,236 trilhão, em 10 anos. Entretanto, não foram mostradas as bases de dados ou relatórios de como foram feitos os cálculos para chegar a estes valores. Trata-se de um ato de fé. Acredite quem quiser.
O impacto de mudanças, segundo a equipe de Paulo Guedes na aposentadoria rural será de R$ 92,4 bilhões e a urbana, R$ 743,9 bilhões, em 10 anos. Já as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BCP) são de R$ 34,8 bilhões, e no abono salarial, de R$ 169,4 bilhões.
São números grandiosos e que provocam um impacto relevante para o mercado ou para quem vê apenas como uma constatação. É sim necessária uma reforma da Previdência Social brasileira para corrigir desigualdades, combater privilégios e excessos, mas deve ser feita de uma maneira mais transparente, sem sigilo, sem amarras. Da maneira que o governo vem trabalhando a divulgação de suas análises atuariais, não deixa claro seu real anseio. Será o de modificar o sistema para garantir o seu futuro ou existe algum interesse implícito?
Um estudo realizado pela Instituição Fiscal Independente (IFI), apresentado em abril, revela que a aprovação da reforma da Previdência permitirá a estabilização do gasto previdenciário dentro do conjunto da economia do País em um prazo de dez anos. De acordo com a entidade, o peso das despesas do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) atualmente equivale a 8,6% do Produto Interno Bruto (PIB), e está em trajetória crescente. Com a reforma, esse avanço subiria a 8,9% até 2029, de acordo com as projeções da IFI. Para comparação, sem nenhuma alteração sobre o sistema, a relação RGPS-PIB poderia chegar a 10,6% num prazo de dez anos.
Porém, os dados da IFI divergem, com uma margem considerável do cálculo apresentado pelo Ministério da Economia. A IFI calcula que a reforma, como está proposta, promoveria no RGPS uma economia de cerca de R$ 670 bilhões até 2029. O governo federal cravou que a economia do RGPS seria de R$ 807 bilhões no mesmo período.
O estudo também observou que a influência das mudanças na aposentadoria rural seria mínima para o crescimento da relação RGPS-PIB. A alteração da idade mínima para as mulheres do campo, de 55 para 60 anos, contribuiria em apenas R$ 49,6 bilhões no período estudado (a idade mínima dos homens, que já é de 60 anos, fica inalterada pela proposta). Dessa forma, uma eventual retirada desse dispositivo do texto da reforma não comprometeria o objetivo de estabilizar a Previdência: segundo a projeção, o gasto previdenciário chegaria a 9,1% do PIB em 2029 num cenário de reforma sem esse ponto. Mas os números apresentados pelo governo federal indicam que a economia seria de R$ 92,4 bilhões. Ou seja, praticamente duas vezes maior que o estudo da IFI. Mais uma vez surge a questão: qual foi a base de dados do Ministério da Economia?
Obviamente a reforma da Previdência neste momento trata-se mais de uma questão política do que realmente uma questão social. Não é aceitável se realizar uma reforma drástica no sistema previdenciário, sem um estudo mais aprofundado dos reais números e efeitos. Assim, cabe ao governo federal abrir suas planilhas atuarias, que estão além dos power points apresentados com números que serviram para dar fiança ao discurso capitaneado por Paulo Guedes.
*Advogado especialista em Direito Previdenciário e sócio do escritório Aith, Badari e Luchin Advogados
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