Opinião

Os resíduos nossos de cada dia: como ressignificar o “lixo”

Os resíduos nossos de cada dia: como ressignificar o “lixo”

O que fazer com mais de 80 milhões de toneladas de resíduos produzidos anualmente no Brasil? Essa foi umas das questões que a última COP 27 de Sharm El-Sheik, que aconteceu em novembro de 2022, deixou em aberto.

Não é possível dizer que o lixo é um problema histórico, pois no passado era constituído exclusivamente de matéria orgânica e tinha fácil destinação, sendo enterrado para controlar vetores e promover a fertilização do solo. O crescimento populacional e o avanço do processo de industrialização fizeram com que não só houvesse uma maior produção de lixo, mas também que sua composição se modificasse ao longo desse período. Atualmente, diante do crescimento da população e da industrialização, a composição é muito mais diversa e são inúmeros os problemas com a destinação.

A ideia de “jogar fora” está cada vez mais inadequada e atrasada, pois não existe o “fora” e com o crescente volume de produção de resíduos, ele está cada vez mais “dentro” e mais próximo de nós. Diante desse contexto, faz-se urgente a criação de alternativas para a destinação de resíduos, que passam necessariamente pela reciclagem e pela reutilização. A utilização de matérias primas renováveis também é uma grande questão não só ambiental, mas econômica, pois não existe possibilidade de um futuro sustentável em uma sociedade exclusivamente extrativista.

Todas essas questões são um desafio e tanto para a engenharia: auxiliar empresas a se tornarem sustentáveis e a combater as mudanças climáticas que colocam o planeta na iminência de desastres ambientais irreversíveis, impondo a necessidade de revermos um modelo de desenvolvimento econômico extrativista e predatório e trazer um sentido de urgência para as estratégias corporativas.

Ao se considerar o meio ambiente como um dos stakeholders do negócio, visão compartilhada pelo Capitalismo Consciente, começa-se a buscar soluções para trazer um retorno positivo também a esse parceiro. Novas formas de utilização dos resíduos são caminhos possíveis para um futuro com maior desenvolvimento econômico e social e menor impacto ambiental – a ideia do Design Circular, que nada mais é, que, pensar em soluções que sejam ambientalmente responsáveis em todos os estágios e métodos da cadeia produtiva. Desde a sua extração, seu uso e sua reciclagem.

A Economia Circular ultrapassa o âmbito e foco estrito das ações de gestão de resíduos e de reciclagem, se tornando uma ação mais ampla. Compreendendo desde o redesenho de processos, produtos e novos modelos de negócio até à otimização da utilização de recursos (“circulando” o mais eficientemente possível produtos, componentes e materiais nos ciclos técnicos e/ou biológicos). O objetivo é o desenvolvimento de novos produtos e serviços economicamente viáveis e ecologicamente eficientes.

Vivemos um momento decisivo, onde o futuro depende de uma correção de rota já! O aumento populacional, crescimento da demanda e consequente pressão nos recursos naturais, sublinha a necessidade das sociedades modernas avançarem para um paradigma mais sustentável, uma economia mais “verde” que assegure o desenvolvimento econômico, a melhoria das condições de vida e de emprego, bem como a regeneração do “capital natural”.

O paradigma da atualidade baseado num modelo linear confronta com questões relativas à disponibilidade de recursos. Como uma solução mais alternativa, a fim de minimizar o consumo de materiais e perdas de energia, seria um novo modelo econômico catalisado pela inovação ao longo de toda cadeia produtiva de valor. Um modelo estratégico que se baseia na redução, reutilização, recuperação e reciclagem. Um modelo que substitui o conceito “fim de vida” da economia linear por novos fluxos circulares de reutilização, renovação e restauração. Uma economia “mais circular”, no caminho para a mudança de paradigma, tendo em vista criar soluções às questões ambientais e sociais decorrentes da globalização dos mercados e do atual modelo econômico baseado numa economia linear de “extração, produção e eliminação”.

Criatividade, engenharia e pensamento circular podem ressignificar o lixo no país hoje. E você, o que pode fazer para reduzir?

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