Opinião

Palavras, palavras, palavras

Palavras, palavras, palavras
Crédito: Freepik

Carlos Perktold*

Devo o título acima ao velho inglês Bill Shakespeare, no ato 2 da cena 2 da peça “Hamlet”, quando questionado por Polonius o que ele, Hamlet, tem lido ultimamente, o príncipe da Dinamarca responde words, words, words, ou seja, somente leituras inúteis.

A resposta de Hamlet é modelo para várias e pretensas atitudes de governos brasileiros que, não agindo nas diferentes crises nacionais, ficam apenas nas promessas, nas palavras. Bill continua universal.

Lembrei-me dessa passagem literária a propósito do que estamos vivendo com esse maldito vírus provocador da primeira tragédia do século 21. É preciso admitir: estamos perdidos como um deficiente visual em tiroteio, pra usar um clichê apropriado, frente à orientação da parcial e interesseira Organização Mundial da Saúde, dos governos estaduais e municipais, além da profusão de especialistas no assunto.

Todos concordam que o momento é de pandemia e o vírus está matando milhares de pessoas pelo mundo, mas ninguém sabe dizer quando isso vai parar, quando será o “pico” da doença, alterado sucessivamente, e o que devemos fazer para salvar-nos e à economia. Portanto, não é só o presidente Bolsonaro que anda perdido frente a essa dificuldade, mas toda comunidade científica.

Para piorar, o STF em única decisão acabou com a Federação e determinou que cabia apenas aos estados e os municípios o que fazer para enfrentar a pandemia. Ao governo federal coube apenas enviar dinheiro para ser gasto no seu combate.

Foi o que o presidente fez há meses, além de ter reduzido a zero as alíquotas de impostos federais incidentes sobre todas as mercadorias para combater o vírus. Os governos estaduais não abriram mão de nem um ponto percentual sobre o ICMS dos mesmos itens.

Agora, a Polícia Federal está procurando os governadores e prefeitos corruptos que, aproveitando da chegada dos créditos, estão com suspeita de que estariam roubando grande parte da verba, construindo hospitais incompletos, comprando equipamentos com preços superfaturados e embolsando a comissão. Essa gente não sente vergonha?

Como encaram seus colegas de profissão quando presos ou soltos depois? Aparentemente esses peculatos são uma forma de conseguir mais dinheiro para a eleição municipal que vem aí e os partidos precisam de mais numerário, além daquele do amaldiçoado fundo partidário.

O que fazer? Ficar em casa foi a mais importante advertência, mas as pessoas não aguentam mais tanto confinamento, tanta solidão, tanta falta de contato social e estão desorientadas quando às recomendações oficiais. Estas são feitas e desfeitas, feitas novamente e desfeitas em seguida até pela Organização Mundial da Saúde.

A carta que o presidente Donald Trump mandou para o presidente daquela Organização é mais que uma missiva. É um libelo criminal do que ela e seu presidente têm aprontados. O presidente dela deveria enfrentar o Tribunal Penal Internacional pelas consequências de suas orientações. As acusações são irrespondíveis e se ele tivesse um mínimo de caráter teria pedido demissão, envergonhado. Mas ele jamais fará isso.

Além de ter provocado a perda de US$ 453 milhões de contribuição americana, prejudicando a Organização, é um ativista da esquerda chinesa e deve achar o resultado de suas recomendações contraditórias um sucesso político.

Antes da crise se manifestar gravemente, especialistas gravaram vários vídeos disponíveis no youtube nos quais a maioria declara que era pura histeria o medo que tínhamos do coronavírus. Dos meus amigos médicos, apenas Ataulpa Reis nos falou sobre a gravidade e previu mais de 50 mil mortos e um milhão de infectados. Palmas para ele pela tragédia do acerto. É pena que sua voz não chega até Brasília e, menos ainda, ao outro lado do mundo.

Registro o óbvio: precisamos de orientação científica segura, algo além do isolamento. Precisamos de esperança, essa última maldição dos deuses na caixa de Pandora. Precisamos voltar a trabalhar e produzir. Precisamos retirar os maus políticos da vida pública. Só assim voltaremos a sonhar.

*Psicanalista, advogado e escritor

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