Política e sustentabilidade

Se a inspiração filosófica da sustentabilidade que fundamenta ações pragmáticas não era intuitiva antes do Modelo 6D, as seis dimensões interativas deram maior concretude à subjetividade. A diversificação de abordagens para se explorar algo que parecia um todo indivisível ofereceu perspectivas para melhor se compreender e diagnosticar a realidade.
A dimensão Política, além de decompor os aspectos político-partidários que influenciam a vida em sociedade, explicitou as forças (muitas vezes invisíveis) das relações e representações sobre processos comuns, corporativos e institucionais.
Expandiu-se o significado de ‘política’, estendendo-o ao mundo privado, onde igualmente impacta decisões. Ali também há vieses de influência relacional determinante, o que pode ser positivo se a intenção for harmonizar interesses para que visões monoculares não se imponham em detrimento de consenso e ponderação.
O balizamento decisório do ‘pensar coletivo’ é mola mestra de civilizações que avançaram menos desiguais em termos sociais, como os escandinavos. A dimensão que menos evoluiu no Brasil foi a Política, por vícios humanos que a condenam a atrasos medievais.
Os debates eleitorais naufragam em acusações sem inteligência propositiva para se encarar, de frente, os dilemas significantes do País. E se um presidente não tem equilíbrio na fala, deveria renunciar, pois comunicação não violenta é liturgia do cargo.
Faltam sensibilidade e sabedoria. Mistura-se política com religião e ambas com farto dinheiro público (às vezes em espécie), em aquisições individuais protegidas contra investigação por reveladores sigilos…
Eleitores extremistas mascam no senso crítico. Inaceitáveis a defesa da tortura, a misoginia e a incitação às armas, enquanto se destila ódio étnico, político, religioso e sexual. Ignoram-se pandemias mortais e crimes ambientais, modulando o foco nacional para desfiles – motorizados e arrogantes – em nome de Jesus, que era humilde…
Pode Deus servir a interesses tão torpes e a ideologias de botequim, conforme necessidades individuais de marketing moral e votos? E por que marcha pela ‘família tradicional’, diante de uma configuração familiar diversa: com avós criando netos, tios acolhendo sobrinhos, irmãos tutelando irmãos e gestores – os mais diversos – zelando por enfermos carentes, órfãos, idosos e outros vulneráveis?
Há um Social complexo, despercebido aos olhos rasos das estratégias de governo. Famílias não precisam de marchas. As carentes demandam boas políticas públicas – que inexistem. E todas, precisam de amor: qualquer maneira dele vale a pena. Não precisa de censo, mas de bom senso, para se constatar novos arranjos familiares desde o século passado, com ou sem filhos e até sem cônjuge, de acordo com os desejos íntimos e pessoais. É preciso respeitar esta liberdade que nunca feriu direito algum. E não se trata de uma decisão político-eclesiástica; tampouco pastoril ou de gananciosos bispados, mas de um fenômeno natural da antropologia social.
A perda de foco no bem comum desvia o País de sua rota social em nome de preconceitos, radicalismo, enriquecimento ilícito – pessoal e familiar – e de congêneres. Persistem o cinismo e a astúcia, na preservação de vantagens para poucos, enquanto o repugnante financiamento de apoio eleitoreiro drena o que sobrou da esperança de um amanhã para tantos.
É na dimensão Política onde reside a chance de se promover o que seja bom para todos, priorizando-se os mais de 50 milhões que não moram e não comem; à margem da assistência biopsicossocial e da economia. Não há democracia política sem uma democracia econômica. Esta é a ética que elegeria o Brasil a uma nação sensível e feliz: sem crescimento pífio, nacionalismo oportunista, moralidade hipócrita, religiosidade fundamentalista e comunicação perversa. Nobre ideal que deveria inspirar o povo brasileiro em sua próxima ida às urnas, exercitando seu poder de veto e voto, em prol de uma política realmente sustentável.
Ouça a rádio de Minas