Por onde anda Watson?

O avanço da infraestrutura digital dos hospitais, que inclui a captação de milhares de dados, não só médicos em seus mínimos detalhes, mas de toda a complexidade da cadeia da assistência à saúde tem desenhado um mundo com novas perspectivas para o aprimoramento dos cuidados.
A ideia de ter auxílio de computadores para que sua inteligência artificial auxiliasse na análise de dados é da década de cinquenta. O que é novo é a maturidade dos sistemas atuais, capazes de compreender e analisar todas as informações disponíveis, sejam elas os dados epidemiológicos como sexo, gênero, idade, naturalidade, residência, etnia, peso, altura, alergias conhecidas, a medição dos parâmetros vitais, resultados dos exames laboratoriais, imagens de todos os tipos, resultados de anatomopatológicos, traçados de exames gráficos – para citar os mais comuns, eletrocárdio, eletroencéfalo, eletroneuromiografia – bem como a análise do genoma da pessoa, quando disponível. Agrega-se ainda a quantidade enorme de informações suplementares, quando sistemas individuais de aferições, os chamados wearables, na forma por exemplo de relógios inteligentes, oferecem a leitura dos dados vitais de um longo período, e as oportunidades proporcionadas com os novos aplicativos de celulares para todos os fins.
Já é rotina na admissão hospitalar a entrevista se existe alergia conhecida a algum medicamento, e outros dados básicos da história clínica, tais como diabetes, hipertensão arterial, peso, altura etc. Aqueles medicamentos listados como proibidos são bloqueados automaticamente para não serem liberados pela farmácia hospitalar indevidamente. Se durante uma prescrição ele for inserido, aparecerão avisos eletrônicos, levando a correção ou averiguação dos dados compilados. Outra rotina comum é a sinalização do paciente com bandeiras de diferentes cores assim que o sistema detecta que certos exames deram alterados de acordo com certos padrões pré-estabelecidos. No mesmo instante que o laboratório processa o exame alterado, já sinaliza imediatamente ao profissional de saúde antes mesmo que ele veja os resultados.
Uma pesquisa conjunta das Sociedades Americana, Europeia e Asiática foi realizada nos cinco continentes sobre o status atual dos estudos sobre infecção após artroplastias. Esta operação consiste na troca de uma articulação doente por implantes artificiais, sendo as mais comuns de quadril e joelho. Uma complicação infecciosa após esse tipo de procedimento é um problema devastador que impacta a vida dos pacientes, e leva a alto custo de internação. Detectou-se que nove por cento das instituições já usam a estratégia chamada Machine Learning para progredir na compreensão de todos os fatores que podem se correlacionar com a ocorrência deste problema. Ela consiste em um programa de computador avançado, que usa os dados coletados e equações matemáticas (algoritmos) para aumentar a precisão do resultado das pesquisas.
Computadores que vão auxiliar no diagnóstico serão cada vez mais comuns e o computador Watson continua trabalhando. Não farão a substituição dos profissionais porque as nuances das percepções de um ser humano só são percebidas por outro ser humano. Mas serão uma ferramenta colocada na prática clínica. Watson foi nutrido com todos os livros textos e artigos científicos existentes. Ele sabe, por exemplo, que comer para aliviar um estresse é um comportamento mais feminino do que masculino; que as mulheres colhem mais benefícios da atividade física do que os homens; que os homens tendem a ser mais impulsivos; que as mulheres sofrem com seus conflitos por mais tempo que os homens, o que aumenta sua susceptibilidade à depressão; que o estresse crônico atrapalha muito a memória dos homens; que uma dose menor de zolpidem (um tipo de remédio para dormir) pode ser eficaz para a mulher; que certos remédios para depressão tipo fluoxetina funciona melhor para mulheres; que há maior prevalência de Glaucoma nas mulheres; que os homens seguem menos as receitas médicas do que as mulheres; que após a menopausa apenas um terço das mulheres conseguem controlar bem a pressão arterial, que é fator de risco para problemas cardíacos e derrame (acidente vascular encefálico); e mais um bilhão de informações enfileiradas. Imagine colocar todas as informações pessoais, enriquecidas com estudos de sequenciamento do DNA pessoal, para então termos a conduta a ser implementada para todas as doenças!
O calor humano e o amor serão sempre imprescindíveis para nossas vidas. Muitas vezes a cura estaria naquele abraço. Pois, por mais que avance, Watson não será capaz de sentir ou entender a emoção indescritível dos versos de Elizeth Cardoso e Pixinguinha em “Carinhoso”: Meu coração/Não sei porque/Bate feliz quando te vê/E os meus olhos ficam sorrindo…
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