Opinião

Premissas para a atuação social

Premissas para a atuação social

Sidemberg Rodrigues*

Face ao início de um novo governo no Brasil, em cujas bandeiras figuram maior atenção à esfera ambiental e à parcela vulnerável do tecido social nacional, os ideais da sustentabilidade renovam suas esperanças. Movimentos como o Capitalismo Consciente, o compromisso das ESGs e com a chance de se buscar energias limpas (estas ainda não consolidadas como pauta do novo governo), além dos ODS (Objetivos do Desenvolvimento Sustentável) e recomendações da Agenda 2030 em geral, parecem encontrar ainda mais eco em nosso País.

Especificamente sobre as empresas, a dimensão Social da sustentabilidade inspira um olhar para além dos muros corporativos e isso gera ondas positivas em todas as esferas. Por exemplo, em uma nação em desenvolvimento, a Responsabilidade Social Empresarial – RSE é imprescindível. Principalmente se guiar-se por premissas metodológicas que otimizem os investimentos sociais, refletindo em um Terceiro Setor mais performático, além de contribuições também no Primeiro (esfera pública). São elas:

Foco na Gestão – priorizar a qualificação do Terceiro Setor para que os parceiros sociais da empresa também tenham uma gestão eficiente, mensurável e evolutiva.

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Compartilhamento – aproximar núcleos sociais com boas práticas, estimulando-os a interagir com outros elos dentro e fora de sua região de atuação, incluindo ONGs, entidades do Setor Público, acadêmico e as próprias empresas, incentivando-os a diversificar sua carteira de investidores sociais para garantir sua sustentabilidade.

Mudança na Abordagem Comunitária – ao invés da pergunta “quais são suas necessidades?”, mudar para “quais são suas potencialidades?”. Com isso, busca-se identificar o talento local para que se possa mudar o mindset comunitário de ‘circunscrição às deficiências locais’ para o ‘aprimoramento de potencialidades’.

Identificação de Fontes – as empresas precisam interagir com todos os elos que contribuem com o Desenvolvimento Local para que não fique refém de manter-se fonte financeira de todas as necessidades trazidas pelo tecido social. Imprescindível estar junto com órgãos como o Ministério Público Estadual, as Esferas Trabalhistas, os Governos Estadual e Municipal, as Polícias, os Tribunais de Justiça, etc. Muitas vezes, o fato de se atuar ao lado desses elos afasta qualquer iniciativa social não íntegra ou meramente política.

Geração de Epicentros Econômicos locais – a empresa precisa identificar fontes de competências comunitárias como projetos a serem replicados e distribuir o apoio geograficamente para expandir o desenvolvimento.

Realocação de Recursos – salvo exceções, todo projeto precisa buscar sua autossustentação para que o recurso a ele destinado possa ser aplicado em outras iniciativas da região ou em novos bairros.

Proximidade da Base – a equipe de responsabilidade social empresarial precisa estar em campo ao lado de consultorias especializadas para conhecer o destinatário final dos recursos e não apenas seus gestores.

Estímulo à Rede Social – induzir conexões entre gestores sociais em um mesmo local, região, país e fora deles para que o benchmark recicle a necessidade de evolução.

Consciência dos Antagonismos Sociais – importante conhecer o que pode drenar o sucesso de iniciativas locais, como os fluxos migratórios que descontinuam o voluntariado dos projetos, o crime organizado, a personalização política de interesses, etc.

Diversificação do Investimento – a prioridade tem de ser a Educação, mas não se deve negligenciar o apoio a iniciativas de outras demandas como Saúde, Segurança, Infraestrutura etc. O suporte não necessariamente precisa ser financeiro por parte da empresa, como por exemplo, transferência de know-how em gestão, doação de bens alienáveis ou inservíveis, voluntariado de empregados e familiares, etc.

Disciplina – os gestores de iniciativas sociais têm de obedecer o período para a entrada de demandas nas empresas, sendo conscientizadas das fases de orçamento e aprovação de investimentos, além de terem claros os critérios para o apoio.

Integração de projetos – muitas vezes, uma mesma comunidade possui diferentes setores geográficos com mesma natureza de projetos. Neste caso, é imprescindível ver a comunidade / região como um todo, para que se compartilhe práticas e recursos (humanos incluídos), de modo a se obter sinergia e otimização de investimentos, a partir do fortalecimento do senso de pertencimento comunitário. Através de premissas, potencializam-se os investimentos para ganhos em escala.

*Conferencista, articulista e professor de Sustentabilidade, Gestão e Integridade em cursos MBA. Autor dos livros: Espiritual & Sustentável (sustentabilidade em 6 dimensões); Complementaridade (gestão sustentável) e Miséria Móvel (crítica social). Contato: [email protected]

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